O DISCÍPULO NÃO ESTÁ ACIMA DO SEU MESTRE

de Álvaro César Pestana

Embora o termo discípulo ocorra quase cento e cinqüenta vezes nos evangelhos sinópticos, nas palavras de Jesus ele só é encontrado nove vezes. Isto quer dizer que o ditado que vamos estudar neste capítulo é muito importante para compreender como Jesus encarava o modo de ser discípulo dele.

LIMITAÇÃO, IMITAÇÃO E PARTICIPAÇÃO

“O discípulo não está acima do mestre, nem o servo acima do seu senhor e nem o enviado acima de quem o enviou”. Com expressões como estas vemos a enunciação de uma lei geral sobre o ser e fazer discípulos. Jesus usou este provérbio em pelo menos quatro situações distintas que deixam transparecer três leis para o discípulo: 1. A lei da limitação; 2. A lei da imitação: 3. A lei da participação.

Este provérbio apresenta-se em três formas equivalentes: (a) “O discípulo não está acima do seu mestre”, (b) “O servo não é maior do que seu senhor”; (c) “… nem o enviado maior do que aquele que o enviou “. As metáforas mudam, mas a mensagem dos provérbios é sempre a mesma.[1]

A LEI DA LIMITAÇÃO: O MESTRE É O LIMITE

“O discípulo não está acima do mestre: todo aquele, porém, que for bem instruído será como seu mestre” (Lucas 6.40). Jesus enunciou assim o princípio da limitação do aluno ao seu professor. O máximo que um discípulo conseguirá, depois de aprender tudo, é ser igual ao seu mestre. Este princípio vale para a maioria das áreas da vida, mas especialmente para a vida espiritual.

Jesus ilustrou este princípio com a parábola do cego que guia outro cego: “Pode porventura um cego guiar outro cego? Não cairão ambos no barranco?” (Lucas 6.39). Se o mestre for “cego”, seus alunos não serão melhores do que ele; o fim de todos, mestre e alunos, será um “barranco” da vida.

Outra ilustração para o mesmo princípio é a “piada” do homem que quer ajudar seu irmão a tirar um cisco do olho, enquanto ele mesmo tem em seu próprio olho uma “tábua” inteira! Que falsidade: oferecer uma ajuda que, na realidade, não tem condições de dar (Lucas 6.41-42).

No fim de tudo, devemos lembrar que a árvore só pode dar o que tem, ou seja, o mestre só pode transmitir aquilo que ele é. A árvore boa dá bons frutos: a árvore má dá frutos maus. O ensino do mestre vai revelar o seu coração. Um homem não pode tirar o bem do coração mau (Lucas 6.43-45). Vamos lembrar então que Jesus nos adverte: “O discípulo não está acima do mestre. ” O Mestre é o limite do desenvolvimento do discípulo.

A LEI DA IMITAÇÃO: O MESTRE É O EXEMPLO

“Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que o seu senhor, nem o enviado maior cio que aquele que o enviou. Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes” (João 13.15-17). O princípio da imitação foi enunciado em um momento crucial da vida dos discípulos. Eles estavam recusando a tarefa de lavar os pés uns dos outros antes da refeição. Ninguém queria “rebaixar-se” para servir os outros. Jesus levanta-se então da mesa, tirou a roupa de cima e passou a lavar os pés dos discípulos.

Depois perguntou: “Compreendeis o que vos fiz?” A lição era óbvia, Jesus enunciou-a com mais clareza ainda quando explicou: “Se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros” (João 13.14). Os discípulos precisam imitar o Mestre.

O objetivo do discípulo é ser como seu mestre (Mateus 10.24-25; Lucas 6.40). Devemos estar dispostos para realizar qualquer tarefa que o Mestre faria. Vamos imitar nosso Mestre, pois o discípulo não está acima do mestre.


A LEI DA PARTICIPAÇÃO: O MESTRE É A CONSEQÜÊNCIA

“Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor: Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa” (João 15.20). Advertência e privilégio. O discípulo participa da vida e obra do mestre. Na verdade, o discípulo é o continuador da obra do mestre, de modo que ele também recebe a mesma resposta que o mestre recebeu: ódio e perseguição dos que odiaram e perseguiram o mestre; e fraternidade e aceitação daqueles que também vão tornar-se discípulos do mestre através deles.

Esta é a lei da participação. O discípulo de Cristo participa daquelas mesmas coisas que Cristo participou. Coisas boas e coisas desagradáveis. É um engano pensar que seremos melhores ou mais bem-sucedidos que nosso Mestre. Jesus é o exemplo e o limite. Dele não podemos passar. A conseqüência de ser discípulo é ser tratado como trataram nosso Mestre.

“O discípulo não está acima do seu mestre, nem o servo, acima do seu senhor: Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu senhor: Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos” (Mateus 10.24-25). O discípulo recebe as conseqüências da vida do mestre. Logo depois disto, o texto diz, três vezes: “Portanto, não os temais” (Mateus 10.26,28,31). Não devemos temer, mas ficar alegres por ser “co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos alegreis exultando” (1 Pedro 4.13). A maior glória do discípulo é ser identificado com o seu mestre. Vamos ser tratados como trataram nosso mestre; este é o nosso papel, pois o discípulo não está acima do mestre.

APLICAÇÃO 

As aplicações deste provérbio de Jesus que queremos ressaltar são: 

1. Escolha bem seu mestre. Jesus proibiu-nos de aceitar um ser humano como nosso mestre, já que este lugar pertence somente a ele (Mateus 23.8). Os mestres humanos limitam e atrofiam o cristão impedindo que ele cresça até a estatura de Cristo (Efésios 4.13). “Maldito o homem que confia no homem… Bendito o homem que confia no SENHOR…” (Jeremias 17.5-8). Todo ser humano é meio cego, ou tem uma trave no olho: não serve de modelo para nós. O único modelo perfeito é o Senhor Jesus Cristo. Se o nosso limite for Jesus, não haverá limites para o crescimento espiritual.

2. Imite Jesus. A razão de sermos discípulos é aprender dele e imitá-lo. Desta forma, não há tarefa nenhuma que Jesus tenha feito que nós não queiramos fazer. Jesus nos deixou o exemplo (1 Pedro 2.21; João 13.15). A vida de Jesus não é somente história: é um manual de instruções; não é somente a vida dele, mas deve ser também a nossa.

3. Participe da missão de Jesus. Perseguição no meio de pregação foi a marca do ministério de Jesus e dos primeiros discípulos. Também deve ser a nossa marca. Não se trata de buscar uma “oposição gratuita”, mas, sendo como o Mestre, seremos perseguidos (2 Timóteo 3.12).





[1] Mateus 10:24 Ouk estin maqhthv uper ton didaskalon oude doulov uper ton kurion autou.
Lucas 6:40 ouk estin maqhthv uper ton didaskalon,
João 13:16 ouk estin doulov meizwn tou kuriou autou oude apostolov meizwn tou pemyantov auton.
João 15:20 Ouk estin doulov meizwn tou kuriou autou.

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