Palavras

 Ilustrações sobre Palavras 

A COISA

de Millôr Fernandes

Tinha cabeça de ponte
Cabelo de relógio
Testa de ferro
Cara-metade
Ouvidos de mercador.

Um olho d’água
Outro da rua
Pestana de violão
Pupilas do Sr. Reitor
Nariz de cera
Boca de siri
Vários dentes de alho
E um de coelho
Língua de trapo
Barba-de-milho
E costeletas de porco.

Tinha garganta de montanha
Um seio da pátria
Outro da sociedade
Braços de mar
Cotovelos de estrada
Uma mão-de-obra
Outra mão boba
Palmas de coqueiros
Dois dedos de prosa
Um do destino
E unha de fome.

Tinha corpo de delito
Tronco de árvore
Algumas juntas comerciais
E outras de bois.
Barriga de revisão
Umbigo de laranja
Cintura de vespa
Costas d’África
Pernas de mesa
Canela em pó
Um pé-de-moleque
Outro de vento
E plantas de arquitetura.

COMO A COISA SE VESTIA:

A Coisa usava
Carapuça de política
Lentes de Medicina
Camisa de onze varas
Com colarinho de chope
Fraldas de montanha
Punhos de campeão
E botões de rosa
Tinha gravata de “jiu-jitsu”
Um terno olhar
De pano do rosto
Com uma manga espada
E outra manganão
Tinha um capote de bisca
Usava anéis de Saturno
Luvas de contrato
“Shorts” cinematográficos
De fazenda agrícola
Bota-fora
Com saltos das sete quedas
E cordão carnavalesco
Usava liga metropolitana
Uma meia-lua
Outra meia-noite
Além do que se penteava
Com um pente de balas
E se envolvia toda
Num lençol d’água.

O MOVIMENTO DA COISA:

Tinha porte de armas
Ares da serra
Tic de relógio
Movimento revolucionário
Andar de edifício
Animação cinematográfica
Passo de montanha
Ação judicial
Cadência musical
Marcha carnavalesca
Corrida de aço
Parada militar
Dava saltos de sapato
Soco no sereno
Pontapé na lua
Pulos do nove
E dançava na corda bamba
A dança de São Guido.

A AUTÓPSIA DA COISA:

Tinha espírito de porco
Cérebro mecânico
E miolo de pão
Coração materno
Maus bofes
Estomago forrado
Bacia do Amazonas
Tripas de Judas
Nervos de aço
Sangue de barata
Artérias da cidade
E ossos do ofício.

O CARDÁPIO DA COISA.

Refeição Matinal:

Xá da Pérsia
Café concerto
Leite de colônia
Pão nosso de cada dia
Manteiga derretida
Maçã do rosto
Ovo de Colombo
Sal da terra.

Almoço:

Arraia miúda
Pés-de-galinha
Pastéis tipográficos
Brotinhos (cozidos em fogo-fátuo)
Suco pancreático.

Sobremesa:

Cremes de Elizabeth Arden
Bolos da Polícia Especial
Doces momentos.

Jantar:

Entrada de cinema
Frango de futebol
Carne de minha carne
Peru de jogo
Batata da perna
Língua de perguntador
Gato por lebre
Uma ova
Água forte.

Sobremesa:

Suspiros de amor
Balas Dum-Dum
Laranja da China.

Ao Deitar:

Chá de sumiço
Fumo da Arrogância.

ONDE A COISA MORAVA:

A Coisa morava
Numa casa-forte
Construída com paredes de grevistas
Onde o diabo perdeu as botas.

Tinha um quarto crescente
(Com um leito de rio)
E vários de hora.

Na Copa do Mundo
Havia uma cortina de ferro
E outras de fumaça.

O chão era de tacos de bilhar.

E o teto tinha uma telha de menos.
Uma mesa redonda
Uma cadeira elétrica
E várias dos quadris.

A casa era iluminada por velas de navio
Tinha um toca-discos voadores
E era adornada com telas de arame
Um espelho de virtudes
Vários vasos de guerra
E um vaso de sangue
Com a flor dos anos.

[Texto extraído do livro “Tempo e Contratempo”, Edições O Cruzeiro – Rio de Janeiro, 1954, pág.13.](Reproduzido com permissão do site “Nossa Língua Nossa Pátria” de Eduardo F. Paeshttp://intervox.nce.ufrj.br/~edpaes.) 


POESIA DO PÉ 

de Alexandre Pelegi

Quem dá no pé quer fugir.
Ao pé da letra é resposta pronta, sem vacilação.
Quem aperta o pé só quer andar mais rápido.
Meter os pés é pagar favor com ingratidão…

Quem fala ao pé do ouvido quer conversa “em segredo”.
Quem bate o pé é teimoso.
Quem bota o pé no mundo quer degredo.
Quem cai de pé é tinhoso…

Quem fica com o pé atrás é desconfiado.
Em pé de igualdade, de igual pra igual.
Se entra com o pé direito, quer ter sorte.

Se entra com o pé esquerdo, é azarado…
Quem lambe os pés, adula e bajula.
Se trata na sola dos pés, é grosseiro.
Quem não chega aos meus pés não tem importância,
É pé-de-chinelo, zé-ninguém sem dinheiro.

Se o negócio está de pé, é porque o acerto é mantido.
Se procuras um pé, buscas pretexto ou motivo.
Quem é pé-de-chumbo não progride na vida;
Mas se é pé-de-bode é trabalhador e prestativo.

Quem chega pé ante pé, vem com vagar, de mansinho;
Mas se é pé-de-guerra, cuidado que de lá vem chumbo!
Se vem pé-d’água, espere toró e aguaceiro.
Se é pé-de-vento é redemunho…

Pé-de-gancho ou Pé cascudo é o diabo!
Quem mete o pé no estribo encaminha a viagem;
Já pé-quente é o motorista ligeiro
Que mete o pé na tábua quando some na paisagem.

Se digo pé-de-página falo de rodapé de livro.
Já pé-de-moleque é doce de rapadura.
Para o pedreiro coluna de casa é pé-direito.
E pé-duro é caipira da roça, sem cultura…

Pé na cova é o doente nas últimas.
Azarado e sem sorte chamam de pé-frio.
Quem se arruína mete o pé no atoleiro.
Acaba pé-rapado, sem dinheiro nem brio.

Quem pisa no pé quer provocação;
Mas quem tem tirocínio tem sempre os pés-no-chão…(Reproduzido com permissão do site “Nossa Língua Nossa Pátria” de Eduardo F. Paeshttp://intervox.nce.ufrj.br/~edpaes.) 


Definindo palavras
Uma palavra é definida pelo seu contexto e uso dentro de uma cultura ou grupo social e não sua etimologia. Uma prova simples disso na língua portuguesa atual é a palavra “bom”.

Esta palavra pode ter significados opostos dependendo do contexto em que for usada.

1. “Eu tenho um novo restaurante para lhe mostrar. Você vai ver o que é bom!” Neste contexto a pessoa falando está usando “bom” com o sentido mais comum de “agradável”, “desejável”, etc.

2. “Use Baygon e os insetos da sua casa vão ver o que é bom.” Neste contexto a pessoa falando na propaganda quer dizer que os insetos vão conhecer o que é ruim mesmo para eles, algo que vai matá-los.

Com este exemplo podemos ver que o sentido de uma palavra é governada pelo contexto e seu uso na cultura ou grupo social. Se o contexto indica um significado, mas a palavra não tem este significado naquela cultura ou grupo social é pouco provável que o autor será entendido.

Por exemplo, o significado no segundo exemplo citado acima não faria sentido para pessoas que falam inglês, porque este tipo de expressão idiomática não é usada em inglês.

Portanto, o significado tem que concordar não somente com o contexto, mas também com o uso daquela palavra já estabelecido dentro do idioma em que for usada. – Dennis Downing, do site www.hermeneutica.com.br 


A diferença entre religião e fé

“Deixe-me fazer uma distinção entre religião e fé. Religião é uma organização, como rabinos ou padres, bispos e tradições. Ter fé não significa necessariamente reconhecer qualquer uma dessas organizações. Somos conectados diretamente a Deus, sem precisar da intermediação de rabinos ou padres.” 
– Shimon Peres, entrevista em VEJA, 4 de julho, 2001.


Veja também ilustrações na sessão de “Contexto

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