Lugares Inesperados

de Max Lucado

Ninguém lhe presta muita atenção. Não que eles devessem. Nada em sua aparência o separa da multidão. Como os demais, ele está na fila, esperando a sua vez. A frieza da lama é confortável entre os dedos de seus pés, assim como as ocasionais batidas da água são bem-vindas em seus pés. Ele, como os outros, pode ouvir a voz distante do pregador.

Entre os batismos, João, o Batista, tende a pregar. Impetuoso. Fervoroso. lntrépido. De rosto bronzeado, barbado, seus olhos são tão agrestes quanto a região de onde ele vem. A sua presença já é um sermão uma voz: “Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; endireitai as suas veredas” (Lc 3.4).

Ele se mantém imerso até a cintura no rio azul-escuro, o Jordão. Ele faz uma veste do pêlo de camelos, uma refeição de insetos e, mais importante, um sinal convidando todas as pessoas para se batizarem. “E percorreu toda a terra ao redor do Jordão, pregando o batismo de arrependimento, para o perdão dos pecados” (Lc 3.3).

O batismo não era uma prática nova. Era um rito requerido a qual-quer gentio que procurasse se tornar um judeu. O batismo era para as pessoas de segunda classe, apodrecidas, rejeitadas; não para os limpos, os favoritos do topo da lista os judeus. Aí está o problema. João se recusa a fazer qualquer tipo de separação entre judeus e gentios. Em seu livro, todo coração precisa de um trabalho detalhado.

Todo coração, isto é, exceto um. Essa é a razão pela qual João se sente pasmado quando certa pessoa entra no rio.

João, porém, tentou impedi-lo, dizendo: “Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?” Respondeu Jesus: “Deixe assim por enquanto; convém que assim façamos, para cumprir toda a justiça”. E João concordou. Assim que Jesus foi batizado, saiu da água. Naquele momento o céu se abriu, e ele viu o Espírito de Deus descendo como pomba e pousando sobre ele. Então uma voz dos céus disse: “Este é o meu Filho amado, em quem me agrado”. (Mateus 3:14-17 NVI)

A relutância de João é compreensível. Uma cerimônia de batismo é um lugar estranho para se encontrar o Filho de Deus. Ele deveria ser batizado, ao invés de estar batizando. Por que Cristo iria querer ser batizado? Se o batismo era, e é, para o pecador confesso, como explica-mos a imersão da única alma sem pecado da história?

Você encontrará a resposta no pronome: “Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça. Então, ele o permitiu” (Mt 3.15, ênfase minha).

A quem se refere o termo “nos”? A Jesus e a nós. Por que Jesus se inclui? É fácil entender porque você, eu, João Batista e as multidões no rio temos de fazer o que Deus diz. Mas Jesus? Por que Ele precisaria ser batizado?

Aqui está o porquê: Ele fez por nós o que eu fiz por uma de minhas filhas em uma loja do aeroporto La Guardia, em Nova Iorque. A placa acima das peças de cerâmica dizia: “Não toque”. Mas o desejo foi mais forte que o aviso, e ela tocou. A peça quebrou-se. Quando olhei, minha filha de dez anos, Sara, estava segurando apenas dois pedaços do que restou da cerâmica, e ao lado dela, uma gerente de loja aborrecida. Entre elas pairava um nervoso silêncio. Minha filha não tinha dinheiro. Então fiz o que os pais fazem. Eu intervim. “Quanto nós lhe devemos?”, perguntei.

Por que eu devia alguma coisa? Simples. Ela era minha filha. E visto que não podia pagar, eu paguei.

Como você e eu não poderíamos pagar, Cristo pagou. Nós quebramos muito mais do que lembrançinhas. Quebramos mandamentos, promessas e, pior do que tudo, quebramos o coração de Deus.

No entanto, Cristo vê a nossa condição. Com a lei na parede e mandamentos despedaçados no chão, Ele se aproxima (como um vizinho) e oferece um presente (como um Salvador).

O que nós devemos? Devemos a Deus uma vida perfeita. Perfeita obediência a todos os seus mandamentos. Não apenas ao mandamento do batismo, mas aos mandamentos que se referem à humildade, à honestidade, à integridade. Não podemos nos livrar. Poderiam até mesmo nos cobrar valores tão elevados quanto os das propriedades de Manhattan. Contudo, Cristo é capaz de nos livrar, e nos livrou. Sua imersão no Jordão é um retrato da sua imersão em nosso pecado. Seu batismo anuncia: “Deixe-me pagar”.

O sell batismo responde: “Vou deixar, com certeza”. Ele oferece publicamente. Nós aceitamos publicamente. “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte?” (Rm 6.3) No batismo, nos identificamos com Cristo. Passamos da condição de “chutadores de pneus” a de “compradores de carros”. Saí-mos das sombras, seguimos em sua direção e anunciamos: “Eu estou com Ele”.

Eu costumava fazer isto em um cinema do tipo drive-in.

Lembra-se dos cinemas drive-in? (Crianças, perguntem a um adulto.) Aquele em Andrews, no Texas, tinha uma noite especial na sexta-feira — todas as pessoas ficavam no carro pelo preço do motorista. Ainda que o carro carregasse um passageiro ou uma dúzia de passageiros, o preço era o mesmo. Freqüentemente optávamos por uma dúzia. A lei não permitiria fazermos hoje o que fazíamos naquela época. Os ombros esmagavam-se. Os rapazes menores no colo dos maiores. O conforto era miserável, mas o preço era justo. Quando a pessoa na bilheteria olhava para dentro do carro, apontávamos para o motorista e dizíamos: “Estamos com ele”.

Deus não diz que você deve se lançar ao carro de Cristo; Ele diz que você deve se lançar a Cristo! “Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito” (Rm 8.1). Ele é o seu veículo! O batismo celebra a sua decisão de ter o seu assento. “Todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo” (GI 3.27, ênfase minha). Não somos salvos pelo ato, mas o ato demonstra a forma como somos salvos. Recebemos o crédito para uma vida perfeita que nós não conduzimosna verdade, uma vida que nunca poderíamos conduzir.

Temos recebido um presente semelhante ao que Billy Joel deu à sua filha. Em seu 12° aniversário, ela estava na cidade de Nova Iorque, e o músico das paradas de sucesso estava em Los Angeles. Ele lhe telefonou naquela manhã, desculpou-se por sua ausência, porém disse-lhe para esperar a entrega de um enorme pacote antes do final do dia. A menina atendeu à campainha naquela noite e encontrou uma caixa de mais de dois metros de altura, embrulhada em um papel brilhante. Ela a abriu, rasgando-a, e daquela caixa saiu o seu pai, recém-saído do avião da Costa Oeste.

Você pode imaginar a surpresa da menina?

Talvez possa. O seu presente também veio em carne.

 

Veja também “O Verdadeiro São João”.
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Do livro ” O Salvador Mora ao Lado”, Copyright © 2004 Editora CPAD. Todos os direitos reservados.

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