A Parábola dos Trabalhadores
de Max Lucado
Mais uma vez, Deus deseja que compreendamos a mensagem: Ele nutre um sentimento especial para com os excluídos. O que a sociedade rejeita, Deus aceita. O que o mundo considera perdido, Deus acolhe. Foi por isso que Jesus contou a história dos trabalhadores escolhidos. É a primeira história de sua última semana. É a última história que ele contará antes de entrar em Jerusalém. Assim que atravessar os muros da cidade, Jesus se tornará um homem condenado. A ampulheta será virada e a contagem regressiva e o caos terão início.
Mas ele não está em Jerusalém. E não fala a seus inimigos. Está na zona rural de Jericó e com seus amigos. E é para esses amigos que Ele conta esta parábola.
Um proprietário de terras necessita de trabalhadores. Às seis horas ele contrata um grupo; todos concordam com o salário e são enviados ao local de trabalho. Às nove horas ele volta à agência de empregos e contrata mais alguns. E ao meio-dia ele volta, e às 15 horas torna a voltar, e às 17 horas… você já sabe. Volta outra vez.
O ponto principal da parábola é a raiva daqueles que trabalharam doze horas em relação aos demais que receberam salário igual. Essa é uma mensagem muito importante, mas será deixada para um outro livro.
Desejo ressaltar um aspecto quase sempre esquecido nessa história: a escolha. Você consegue compreender? Aconteceu às nove horas. Aconteceu ao meio-dia. Aconteceu às 15 horas. E o mais impressionante, aconteceu às 17 horas.
Cinco horas da tarde. Diga-me uma coisa: o que faz um trabalhador às 17 horas? A maior parte do serviço já foi feita. Os trabalhadores medíocres chegaram na hora do almoço. Os últimos aproveitáveis chegaram às 15 horas. Que tipo de trabalhador é deixado para ser escolhido às 17 horas?
Não fizeram nada o dia todo. São inexperientes. Despreparados. Incultos. Estão pendurados no degrau mais baixo da escada. São total-mente dependentes de um patrão misericordioso para lhes dar uma oportunidade que não esperavam.
A propósito, somos iguais a eles. Deixando de lado um pouco do orgulho, devemos aceitar o conselho de Paulo e analisar o que éramos quando Deus nos chamou.’ Você se lembra?
Alguns de nós eram educados e espertos, mas franzinos como papel machê. Outros sequer tentavam esconder o desespero. Sorvíamos o desespero. Cheirávamos o desespero. Matávamos o desespero. Vendíamos o desespero. A vida era uma busca de emoções. Estávamos à procura de um tesouro dentro de um baú vazio em um beco sem saída.
Você se lembra de como se sentia? Lembra-se do quanto transpirava de angústia em sua alma? Lembra-se de como se esforçava para ocultar a solidão até ela ficar maior do que você, e a partir de então tentava apenas sobreviver?
Atenha-se a essa cena por alguns instantes. Agora responda: por que ele escolheu você? Por que ele me escolheu? Honestamente. Por quê? O que nós temos que possa interessar a ele?
Intelecto? Francamente, será que chegamos a pensar por um minuto que temos ou, quem sabe, teremos — um pensamento que ele não tenha tido?
Determinação? Posso respeitar isso. Podemos ser obstinados a ponto de caminhar sobre a água se formos chamados a fazer isso… mas será que o reino de Deus teria sucumbido sem nossa determinação?
E que tal dinheiro? Entramos no reino com um pequeno pé-de-meia. Talvez seja por isso que fomos escolhidos. Talvez o criador do céu e da terra pudesse fazer uso de um pouco do nosso dinheiro. Quem sabe o dono de todos os seres vivos e de todas as pessoas e também autor da História estivesse necessitando de algum capital e tenha vislumbrado em nós alguma possibilidade…
Entendeu o sentido?
Fomos escolhidos pelos mesmos motivos que os trabalhadores das 17 horas foram. Você e eu? Somos os trabalhadores das 17 horas.
Somos nós que nos encostamos na cerca do pomar fumando cigarros pelos quais não podemos pagar e apostando em um joguinho qualquer algumas cervejas que não temos condições de comprar. Trabalhadores migrantes, sem emprego e sem futuro. Na tatuagem em seu braço lê-se “Betty”. Na tatuagem em meu bíceps não há nome de ninguém mas os quadris dela se projetam quando flexiono o braço. Deveríamos poder ir para casa após o apito da hora do almoço, mas nossa casa é apenas uma moradia de um cômodo onde há uma esposa nos aguardando e cuja primeira pergunta será: “Você conseguiu ou não?”
E assim esperamos. Os pequenos demais, os velhos demais.
E Jesus? Bem, Jesus é aquele motorista da camioneta preta, proprietário das terras na encosta da colina. Ele é o homem que nos viu na estrada quando passava por nós, deixando um rastro de pó atrás de si. Ele é aquele que parou a camioneta, deu marcha a ré e se aproximou de onde estávamos.
É sobre ele que você conversará com sua esposa esta noite enquanto caminha até a mercearia com alguns trocados no bolso. “Nunca tinha visto esse camarada antes. Ele parou, abriu o vidro da camioneta e perguntou se queríamos trabalhar. O dia já estava terminando, mas ele nos disse que tinha um serviço urgente. Juro, Martha, trabalhei apenas uma hora e ele me pagou o dia integral.”
“É claro que vou procurar saber. Bom demais para ser verdade, aquele camarada.”
Por que ele escolheu você? Porque quis. Afinal de contas, você pertence a ele. Foi ele quem fez você. Ele o levou até sua casa. Ele é seu dono. E certa vez, ele deu-lhe um tapinha no ombro e o fez lembrar daquele fato. Não importa quanto tempo você esperou nem quanto tempo perdeu; você lhe pertence e ele tem um lugar para você.
Veja também de Max Lucado “Co-trabalhadores com Deus” e “Ambição Cega”.
– de Max Lucado, no livro “Quando os Anjos Silenciaram”, Campinas: Editora United Press, 1999, pp. 18-21.
Para mais meditações de Max Lucado visite seu site oficial em português: www.maxlucado.com.br