Princípio 6: Interprete a experiência à luz das Escrituras, e não vice-versa.
de Tremper Longman III
Muito freqüentemente, distorcemos o significado da Bíblia, permitindo que nossas experiências moldem nossa compreensão de uma passagem ao invés do contrário. Muitos leitores tiram a passagem de seu contexto para apoiar as suas teorias doutrinárias, ignoram o restante dos ensinos bíblicos e argumentam que a sua “verdade” é a mesma da Bíblia.
Por exemplo, se o compartilhar da minha fé é algo constrangedor, posso inventar uma desculpa para não evangelizar usando uma passagem que fala do amor de Deus. Poderia citar 1 Coríntios 13 e muitas outras passagens para mostrar que Deus e amor são quase sinônimos. E, assim, poderia argumentar: “Se Deus é amor, como ele poderia condenar alguém ao inferno?” Desta maneira, sairia bem dessa difícil situação e não haveria necessidade de dizer às pessoas sobre Jesus, apesar de todo o ensino bíblico ser claro a respeito do pecado, julgamento e inferno.
Outro modo da nossa experiência poder deturpar a interpretação é quando inconscientemente colocamos nossos valores ocidentais nos textos bíblicos. Por exemplo: o capitalismo, como tal, não foi ensinado em nenhuma parte da Bíblia; e nem o socialismo. Entretanto, os americanos dos partidos cristãos de direita, bem como os latino-americanos da teologia da libertação, podem usar a Bíblia a fim de promover seus programas políticos. O antídoto para tal leitura tendenciosa é evidenciar as passagens bíblicas que solapam tanto o capitalismo quanto o socialismo bíblico. A experiência da classe média branca do capitalismo pintado como bom e a do socialismo como ruim, não deveria conduzir ao pensamento de que um é bíblico e o outro é antibíblico.
Talvez uma das questões debatidas mais calorosamente nos círculos evangélicos seja sobre os dons do Espírito: se profecias e línguas continuam até hoje. Há argumentos dos dois lados que apelam para experiências além do ensino bíblico. Se alguém fala em línguas, esta pessoa estará predisposta a acreditar que a Bíblia justifica a experiência — “Não posso negar o que Deus fez na minha vida!” Se outra pessoa observar essa questão de outro ângulo, esses dons podem trazer o caos à adoração, e talvez encontre argumentos que refutem tal prática – “Como Deus pode ser o autor dessa confusão?”
É difícil, porém, devemos constantemente lutar para interpretar nossa experiência à luz das Escrituras, ao invés de usar nossa experiência para fazer com que a Bíblia diga apenas e unicamente o que gostaríamos que ela dissesse.
[Nas próximas semanas, Deus permitindo, iremos reproduzir nesta seção outros princípios básicosde hermenêutica do livro“Lendo a Bíblia com O Coração e a Mente” de Tremper Longman III.]
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O livro de Tremper Longman III do qual este texto foi extraído, “Lendo a Bíblia com O Coração e aMente“, pode ser encomendado da Editora Cultura Cristã selecionando a capa do livro ao lado: