O Leitor Como Intérprete (Parte II)

de Gordon D. Fee e Douglas Stuart

(Veja também a primeira parte deste estudo
“O Leitor Como Intérprete Parte 1”)

A necessidade de interpretar também é achada por meio de notar aquilo que acontece em nosso redor o tempo todo. Uma simples olhada para a igreja contemporânea, por exemplo, torna abundantemente claro que nem todos os “significados claros” são igualmente claros para todos. É de interesse mais do que passageiro que a maioria daqueles na igreja de hoje que argumentam que as mulheres devem guardar silêncio na igreja, com base em 1 Coríntios 14.34-35, negam, ao mesmo tempo, a validez do falar em línguas e da profecia, o próprio contexto em que a passagem do “silêncio” ocorre. E aqueles que afirmam que as mulheres, e não somente os homens, devem orar e profetizar, com base em 1 Coríntios 11.2-16, freqüentemente negam que devem fazê-lo com a cabeça coberta. Para alguns, a Bíblia “ensina claramente” o batismo dos crentes mediante a imersão; outros acreditam que podem defender o batismo de crianças por meio da Bíblia. Tanto a “segurança eterna” quanto a possibilidade de “perder a salvação” são pregadas na igreja, mas nunca pela mesma pessoa! As duas posições, no entanto, são afirmados como sendo o significado claro dos textos bíblicos. Até mesmo os dois autores deste livro têm certos desacordos entre si quanto ao significado “claro” de certos textos. Mesmo assim, todos nós estamos lendo a mesma Bíblia e todos estamos procurando ser obedientes àquilo que o texto “claramente” significa.

Além destas diferenças reconhecíveis entre “crentes bíblicos,” há, também, todos os tipos de coisas estranhas em andamento. Usualmente podemos reconhecer as seitas, por exemplo, porque têm uma autoridade além da Bíblia. Mas nem todas elas a têm; em todos os casos, porém, torcem a verdade pelo meio que selecionam textos da própria Bíblia. Toda heresia ou prática que se possa imaginar, desde o arianismo (a negação da divindade de Cristo), das Testemunhas de Jeová e de “O Caminho”, até o batismo em prol dos mortos entre os mórmons, até o manipular de serpentes entre as seitas apalacianas, alega ser “apoiada” por algum texto.

Até mesmo entre pessoas mais teologicamente ortodoxas, no entanto, muitas idéias estranhas conseguem ganhar aceitação em vários círculos. Por exemplo, uma das modas atuais entre os protestantes norte-americanos, especialmente os carismáticos, é o assim-chamado Evangelho da riqueza e da saúde. As “boas novas” são que a vontade de Deus para você é a prosperidade financeira e material! Um dos defensores deste “evangelho” começa seu livro ao argumentar em prol do “sentido claro” da Escritura e ao alegar que coloca a Palavra de Deus em posição de absoluta primazia no decurso do seu estudo. Diz que não conta aquilo que pensamos que ela diz, mas, sim, o que ela realmente diz. O “significado claro” é o que ele quer. Começamos, porém, a ter nossas dúvidas acerca de qual é realmente o “significado claro” quando a prosperidade financeira é argumentada como sendo a vontade de Deus a partir de um texto tal como 3 João 2: “Amados, acima de tudo faço votos por tua prosperidade e saúde, assim, como é próspera a tua alma” — texto este que realmente não tem nada a ver com a prosperidade financeira. Outro exemplo toma o significado claro do jovem rico (Marcos 10.17-22) como sendo exatamente o oposto daquilo “que realmente diz,” e atribui a “interpretação” ao Espírito Santo. Podemos talvez questionar com razão se o significado claro realmente está sendo procurado; talvez o significado claro seja simplesmente aquilo que semelhante escritor quer que o texto signifique a fim de apoiar suas idéias prediletas.

Dada toda esta diversidade, tanto dentro quanto fora da igreja, e todas as diferenças até mesmo entre os estudiosos, que alegadamente conhecem “as regras,” não é de se maravilhar que alguns argumentam em prol de nenhuma interpretação, em prol da simples leitura. Esta, porém, é uma opção falsa, conforme vimos. O antídoto à má interpretação não é simplesmente nenhuma interpretação, mas, sim, a boa interpretação, baseada nas diretrizes do bom senso.

Os autores deste livro não sofrem de ilusões de que, ao ler e seguir nossas diretrizes, todos finalmente concordarão quanto ao “significado claro”, nosso significado! O que esperamos realizar é aumentar a sensibilidade do leitor a problemas específicos inerentes em cada gênero, informá-lo por que existem opções diferentes e como fazer julgamentos de bom-senso, e especialmente ter a capacidade de discernir entre interpretações boas e as não tão boas — e de saber o que as faz assim.

[Nas próximas semanas, Deus permitindo, iremos reproduzir nesta seção mais princípios da interpretação dos senhores Fee e Stuart do seu livro “Entendes o Que Lês?”]

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Reproduzido com a devida autorização.

O livro de Gordon D. Fee e Douglas Stuart do qual este texto foi extraído, “Entendes o que Lês?“, pode ser encomendado daEdições Vida Nova
selecionando a capa do livro ao lado:  


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