Efésios 5:18
“não vos embriagueis com vinho”
de Dennis Downing
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ANÁLISE DA PASSAGEM
Contexto
Texto
Passagens Relevantes
INTERPRETAÇÃO
Material Adicional
v. 18a “não vos embriagueis com vinho,
v. 18b “no qual há dissolução,
v. 18c “mas enchei-vos do Espírito,
INTRODUÇÃO
Grego
Kai mh mequ/skesqe oi)/no,
kai me methuskesthe oino,
e não (vos) embriagueis vinho
e)n w(| e)stin a)sotia, a)lla plerou=sthe e)n pneu/mati
en ho estin asotia, alla plerousthe en pneumati
no qual há dissolução, mas (sejais) cheio no Espírito
Português
ARA
“E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito”
NVI
“Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo Espírito,”
BJ
“E não vos embriagueis com vinho, que é uma porta para a devassidão, mas buscai a plenitude do Espírito.”
VFL
“E não continuem a se embriagar com vinho, pois isso vai levá-los à ruína espiritual, mas encham-se com o Espírito.”
Observações Preliminares
A proibição de Paulo parece estar contra a embriaguez. Ele está tentando mostrar aos Cristãos em Éfeso quem deve estar em controle das suas vidas desde que entraram em Cristo.
Não parece à primeira vista que Paulo esteja proibindo os irmãos de beberem vinho em si, embora a abstinência seja uma boa disciplina contra a possibilidade da embriaguez. Parece que a condenação é mais em relação à própria embriaguez.
Dúvidas e Perguntas
Interpretação
O que é que Paulo está condenado aqui?
Esta condenação continua para Cristãos hoje?
Há implicações em relação a outras substâncias nesta condenação?
Paulo está condenando a embriaguez, ou o uso de qualquer substância que, se usado em excesso poderia levar à embriaguez?
Qualquer coisa que pudesse levar à dissolução seria condenado baseado nesta passagem?
Havia algum problema com embriaguez na igreja em Éfeso, ou Paulo está apenas usando a embriaguez como exemplo para fazer contraste com o enchimento do Espírito?
O que é condenado nesta passagem é o beber de vinho e/ou outras bebidas, ou o ficar embriagado?
Cristão pode beber vinho ou cerveja?
Cristão pode beber bebidas mais fortes, como vodka, ou cachaça?
Vinho pode ser usado na ceia do Senhor?
Há outras coisas que esta passagem indica como também condenados, como jogos de vídeo game ou comer em excesso?
Qualquer coisa em excesso pode ser condenado com base nesta passagem?
ANÁLISE DA PASSAGEM
Contexto
Paulo passou entre 2-3 anos em Éfeso (Atos 19:1-10). Ele provavelmente escreveu de Roma entre 62 e 64 para a igreja em Éfeso. Diferente de cartas como Gálatas ou Colossenses, a carta à igreja em Éfeso teve um objetivo bem mais serene e positivo. Um comentarista observou a atitude de Paulo ao escrever a carta “uma composição suprema, sem controvérsia, positiva, fundamentada na grande doutrina da vida dele, – aquela doutrina na qual ele havia avançado ano após ano sob a disciplina das sua circunstâncias especiais, – a doutrina da unidade da humanidade em Cristo e o propósito de Deus para o mundo através da Igreja.”[1]
Paulo está falando no contexto imediato de 4:17-5:20 do contraste entre a vida anterior, antes de Cristo, e a nova vida nEle. Os desejos do velho homem é que corrompem o Cristão, e entre estes são o desejo de se embriagar. “Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos,” Efé 4:22 NVI
A partir de 4:25 Paulo começa a usar uma série de imperativos para descrever como o Cristão deve viver: 4:25 “Por isso, deixando a mentira, fale (imperativo) cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros. 26 Irai-vos (imperativo) e não pequeis (imperativo); não se ponha o sol (imperativo) sobre a vossa ira,”… O ponto do autor parece ser de fazer um contraste com a vida antes e depois de Cristo. É possível que havia problemas com todas as questões citadas por Paulo (mentira, ira, dando lugar ao diabo, o furto, o falar de palavras torpes, o entristecer do Espírito Santo … a insensatez em geral, etc.). Ou, possivelmente Paulo estaria citando vários problemas, alguns dos quais os Cristãos em Éfeso tiveram no passado (4:22), outros com os quais havia ainda problemas (4:28 o artigo definido com o particípio presente indicaria um problema contínuo[2]), e outros que Paulo queria prevenir. Sendo assim, não há como saber com certeza se o problema com a embriaguez realmente representava uma ameaça à igreja em Éfeso ou algo que Paulo preferia dar uma alerta para prevenir.
Alguns enxergam no contexto desta passagem uma definição limitadora daquilo que seria louvor ou adoração “aceitável para Deus”. Nos versículos posteriores (19-20), o fato de Paulo exortar os irmãos a cantarem e louvarem, não serve de limite para outras formas de expressão de louvor (como, por exemplo o bater em palmas, ou o uso de instrumentos musicais), a não ser que possa ser demonstrado no texto que ele proíbe ou descarta claramente estas outras formas. Paulo não está dando aqui uma definição de formas de louvor exclusivamente “aceitáveis para Deus,” nem tentando impor limites na adoração Cristã. Ele está apenas exortando os irmãos a louvarem ao Senhor, dando alguns exemplos de como isso pode ser feito. A inclusão ou exclusão de outros exemplos nada implica naqueles exemplos serem ou não apropriados ou “aceitáveis” a Deus como formas legítimas de louvor.
D.A. Carson, em seu excelente livro sobre falácias da exegese “Os Perigos da Interpretação Bíblica”, define a falha de interpretação de enxergar num texto um elemento limitador injustificado como “especificação injustificada”. Carson mostra que este é o hábito de “enxergar (num texto) um elemento restrito e limitador que não pode ser demonstrado no texto em si.” Concordamos com Carson de que, a não ser que este elemento possa ser demonstrado no texto em si, não há base para argumentar que o texto de Efésios 5:18-20 tenha como propósito limitar o louvor ou adoração da Igreja de Jesus. O uso desta passagem neste sentido, na verdade, acaba desrespeitando o conteúdo e o propósito do texto inspirado.
Texto
Variantes Significantes Não há variantes significantes.
Palavras chaves ou expressões importantes
“embriagar” “methusko” (gr. mequskw) “E não vos embriagueis com vinho”
1. methuo (mequw) significa “estar bêbado com vinho” (derivado de methu, “vinho doce, vinho adamado”; por conseguinte, em português, “hidromel”); originalmente denota “bebida suave”. Quanto a Jo 2.10, veja BEBER. Em Mt 24.49; At 2.15; 1 Co 11.21; 1 Ts 5.7 (segunda parte), ο verbo é usado para aludir a “estar intoxicado”; metaforicamente, diz respeito ao efeito nos homens participarem das abominações do sistema babilônico (Αρ 17.2); a estar num estado de “intoxicação” mental, através do derramamento profuso de sangue humano (Αρ 17.6).¶
2. methusko ( μεθύσκω) significa “ficar bêbado ou embriagar-se” (verbo incoativo, que marca ο processo ou ο estado expresso no n° 1), “estar intoxicado” (Lc 12.45; Ef 5.18; 1 Ts 5.7, primeira parte).¶[3]
mequskw fazer (alguém) intoxicar-se, pass. Tornar-se intoxicado, embriagar-se Lc 12:45; Ef 5:18; 1 Ts 5:7; Ap 17:2;[4]
É importante notar que em quatro dos principais dicionários gregos os termos “methusko” e “methuo” são definidos como “intoxicar” ou “intoxicado”[5]. Estes termos, embora se aplicam ao estado de uma pessoa “embriagada” por bebida alcoólica, também são usados para descrever o estado de pessoas sob o efeito de entorpecentes.
Embora o termo é usado na Bíblia mais freqüentemente com o sentido de “embriagar” ou ficar “embriagado” com vinho ou outras bebidas semelhantes, há o uso do termo em relação a várias outras substâncias ou situações.
O povo pode ser embriagado com a ira de Deus (Isa 51:21-22) “Pelo que agora ouve isto, ó tu que estás aflita e embriagada, mas não de vinho. 22 Assim diz o teu Senhor, o SENHOR, teu Deus, que pleiteará a causa do seu povo: Eis que eu tomo da tua mão o cálice de atordoamento, o cálice da minha ira; jamais dele beberás;” A idéia nesta passagem é de que a ira de Deus deixou o povo desorientado e atordoado.
Há também o uso do termo em relação à água da chuva regando terras secas (Isa 55:10; Sl 64:10). Aqui a idéia parece ser da terra ficar saturada com umidade.[6]
O termo pode se referir ao saciamento dos sacerdotes com gordura em Jer 31:14 “Saciarei de gordura a alma dos sacerdotes, e o meu povo se fartará com a minha bondade, diz o SENHOR.”
O próprio sangue “é freqüentemente a bebida intoxicante”[7] e pode ser visto em relação à espada do Senhor bebendo profundamente “sendo que o sangue é o líquido embriagante”.[8]
Isa 34:7 Os bois selvagens cairão com eles, e os novilhos, com os touros; a sua terra se embriagará de sangue, e o seu pó se tornará fértil com a gordura.
Isa 49:26a Sustentarei os teus opressores com a sua própria carne, e com o seu próprio sangue se embriagarão, como com vinho novo.
Jer 46:10 Porque este dia é o Dia do Senhor, o SENHOR dos Exércitos, dia de vingança contra os seus adversários; a espada devorará, fartar-se-á e se embriagará com o sangue deles; porque o Senhor, o SENHOR dos Exércitos tem um sacrifício na terra do Norte, junto ao rio Eufrates.
Outro uso figurativo deste grupo de palavras ocorre em Apoc 17:2,6. No primeiro caso, os habitantes da terra foram embriagados com o adultério da grande meretriz e no segundo, a mesma ficou “embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus;”.
Nestes outros usos percebemos que o termo “embriagar” pode ser aplicado não somente à intoxicação com uma bebida alcoólica no sentido tradicional, mas em outros sentido e até usos figurativos. Em tudo, há elementos comuns – a idéia de algo sendo saturado, saciado, ou cheio, e freqüentemente com o significado de perda de controle da mente ou dos sentidos, como o povo ficando atordoado com a ira de Deus. Vimos também a dissolução e vidas desenfreadas no povo que se embriague com o adultério da grande meretriz em Apocalipse 17. Tanto a idéia de se encher como o conceito de vidas dissolutas estão compatíveis com o uso do termo em Efésios 5:18. O que devemos notar é que estes conceitos não se limitam, no uso desta palavra na Bíblia, ao ingerir de bebidas alcoólicas. Estes conceitos estão também ligados a outras substâncias e situações.
“vinho” oinos (gr. oinov) “E não vos embriagueis com vinho”
1. oinos (
oinov) é ο termo geral para “vinho”. A menção dos odres estourarem (Mt 9.17; Me 2.22; Lc 5.37), implica fermentação. Veja também Ef 5.18 (cf. Jο 2.10; 1 Tm 3.8; Tt 2.3). Em Mt 27.34, a RC tem “vinho” (“vinagre”, é tradução da leitura inferior oxos).
Α bebida de “vinho” poderia ser uma pedra de tropeço e ο apóstolo Paulo ordena a abstinência neste particular, como em outros, para evitar dar ocasião de fazer um irmão tropeçar (Rm 14.21). Contraste com 1 Tm 5.23, que tem uma ligação completamente diferente. Α palavra é usada metaforicamente: (a) acerca dos males ministrados às nações pela Babilônia religiosa (Αρ 1,4.8; 17.2; 18.3); (b) ο conteúdo das taças da ira divina sobre as nações e sobre Babilônia (Αρ 14.10; 16.19; 19.15).
2. gleukos
gleukov denota “vinho novo” doce, ou mosto (At 2.13). As acusações esposadas neste texto mostram que era vinho embriagante e, portanto, deve ter sofrido fermentação por algum temρο.¶ Na Septuaginta, consulte Jó 32.19.9¶[9]
oinov “vinho” 1. lit. Mt 9.17; Mc 15.23; Lc 1.15; 7.33; 10.34; Jo 2.3, 9s; Rm14.21; Ef5.18; 1Tm3.8; 5.23;Tt 2.3; Αρ 18.13-2. fig. Αρ 14.8, 10; 18.3; 19.15-3. vinha 6.6.[10]
“dissolução” asotia (gr. aswtia) “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução,”
asotia (
aswtia)”prodigalidade, desperdício, dissipação” (formado de a, elemento de negação, e sozo, “salvar”), é encontrado em Ef 5.18 (“contenda”); Tt 1.6 (“dissolução”); 1 Pe 4.4. Ο verbo correspondente é encontrado num papiro descrevendo e contando uma “vida dissoluta, libertina” (como ο advérbio asotoos, veja Β).9¶ Na Septuaginta, consulte Ρν 28.7. ¶ Contraste com ο sinônimo aselgeia em DISSOLUÇÃO.[11]
aswtia as, h libertinagem, vida desenfreada Ef 5.18; Tt 1.6; 1 Pe 4.4.¶[12]
aswtia é usado em outros lugares no NT somente em Tito 1:6 e 1 Pe 4:4, onde fica associado de perto com a bebedeira no versículo anterior, enquanto o advérbio cognata é usado para descrever o estilo de vida do filho pródigo em Luc 15:13. O uso do termo aqui nos lembra a condenação completa do autor ao estilo de vida não-Cristão gentio em 4:19, onde foi empregado o sinônimo aselgeia, “dissolução”.[13]
Passagens Relevantes
Não há passagens paralelas
Passagens sobre bebida e bebedeira em geral
Prov 20:1 O vinho é escarnecedor, e a bebida forte, alvoroçadora; todo aquele que por eles é vencido não é sábio.
Prov 23:20 Não estejas entre os bebedores de vinho nem entre os comilões de carne.
Prov 23:31-35 31 Não olhes para o vinho, quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente. 32 Pois ao cabo morderá como a cobra e picará como o basilisco. 33 Os teus olhos verão coisas esquisitas, e o teu coração falará perversidades. 34 Serás como o que se deita no meio do mar e como o que se deita no alto do mastro 35 e dirás: Espancaram-me, e não me doeu; bateram-me, e não o senti; quando despertarei? Então, tornarei a beber.
Prov 31:4 Não é próprio dos reis, ó Lemuel, não é próprio dos reis beber vinho, nem dos príncipes desejar bebida forte.
Isaías 5:11 Ai dos que se levantam pela manhã e seguem a bebedice e continuam até alta noite, até que o vinho os esquenta!
Isaías 29:9-12 9 Estatelai-vos e ficai estatelados, cegai-vos e permanecei cegos; bêbados estão, mas não de vinho; andam cambaleando, mas não de bebida forte. 10 Porque o SENHOR derramou sobre vós o espírito de profundo sono, e fechou os vossos olhos, que são os profetas, e vendou a vossa cabeça, que são os videntes. 11 Toda visão já se vos tornou como as palavras de um livro selado, que se dá ao que sabe ler, dizendo: Lê isto, peço-te; e ele responde: Não posso, porque está selado; 12 e dá-se o livro ao que não sabe ler, dizendo: Lê isto, peço-te; e ele responde: Não sei ler.
Miq 2:11 Se houver alguém que, seguindo o vento da falsidade, mentindo, diga: Eu te profetizarei do vinho e da bebida forte, será este tal o profeta deste povo.
Matthew 24:48 Mas, se aquele servo, sendo mau, disser consigo mesmo: Meu senhor demora-se, 49 e passar a espancar os seus companheiros e a comer e beber com ébrios, 50 virá o senhor daquele servo em dia em que não o espera e em hora que não sabe… (PP Luc 12:45)
Romanos 13:12 Vai alta a noite, e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz. 13 Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes;
1 Cor 5:11 Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais.
1 Cor 6:9-10 9 Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, 10 nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus.
1 Cor 11:21 Porque, ao comerdes, cada um toma, antecipadamente, a sua própria ceia; e há quem tenha fome, ao passo que há também quem se embriague.
Gal 5:19-21 19 Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, 20 idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, 21 invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam.
1 Tess 5:6 Assim, pois, não durmamos como os demais; pelo contrário, vigiemos e sejamos sóbrios. 7 Ora, os que dormem dormem de noite, e os que se embriagam é de noite que se embriagam. 8 Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios, revestindo-nos da couraça da fé e do amor e tomando como capacete a esperança da salvação;
1 Tim 3:8 Semelhantemente, quanto a diáconos, é necessário que sejam respeitáveis, de uma só palavra, não inclinados a muito vinho, não cobiçosos de sórdida ganância,
Tito 2:3 Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem,
1 Pedro 4:3 Porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em detestáveis idolatrias.
Passagens sobre a nova vida no Espírito
Romanos 13:12-14 12 Vai alta a noite, e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz. 13 Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes; 14 mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências.
Efé 4:22 NVI “Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos,”
1 Tess 4:6-10 6 Assim, pois, não durmamos como os demais; pelo contrário, vigiemos e sejamos sóbrios. 7 Ora, os que dormem dormem de noite, e os que se embriagam é de noite que se embriagam. 8 Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios, revestindo-nos da couraça da fé e do amor e tomando como capacete a esperança da salvação; 9 porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo, 10 que morreu por nós para que, quer vigiemos, quer durmamos, vivamos em união com ele.
2 Tim 1:7 ARA “Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação.”
“Pois Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio.” 2 Tim 1:7 NVI
Esboço da passagem
v. 18a “não vos embriagueis com vinho,
v. 18b “no qual há dissolução,
v. 18c “mas enchei-vos do Espírito,
INTERPRETAÇÃO
Barton e Comfort, Bratcher & Nida, Bruce, Constable, Foulkes, Hendriksen, Lincoln, Skevington Wood, Westcott
Material Adicional
Norman L. Geisler, “Uma Perspectiva Cristã Sobre o Beber de Vinho” (A Christian Perspective on Wine-Drinking) Bibliotheca Sacra, Dallas TX: Dallas Theological Seminary 1982, Issue 553, p. 52.
Estas palavras devem ser consideradas à luz do trecho maior (4:17-5:20) em que Paulo faz um contraste entre o “antes e depois” da vida dos crentes. Se embriagando com vinho é associado com a velha forma de viver e seus desejos egoístas, que Paulo já condenou como corrupto (4:22). … Paulo escreveu estas palavras para deliberadamente contrastar a embriaguez com o enchimento pelo Espírito, da mesma forma que ele contrastou aqueles nas trevas com aqueles vivendo na luz (5:8). Em Romanos 13:12-13 e 1 Tess 5:6-8, Paulo associou a embriaguez com trevas e a sobriedade com a luz.[14]
v. 18a “não vos embriagueis com vinho,
Embora o vinho tenha sido abusado naquela época com este pretexto, não há nada no texto que indique que este foi o motivo de Paulo tratar do assunto aqui. A falta de mais detalhes sobre o abuso de substâncias alcoólicas ou exemplos disso ocorrendo dentro da congregação leva a crer que isso não foi um problema em Éfeso. É igualmente possível que o apóstolo presumia que seus leitores já sabiam do perigo da bebida e simplesmente quis dar um contraste com o enchimento do Espírito Santo. [Veja Contexto Literário]
É impossível saber porque este alerta específico foi necessário; parece que versículos 18-20 têm a ver com adoração em grupo, e por isso a bebedice pode ser de uma natureza religiosa, isto é, tomando vinho em adoração para ganhar comunhão com Deus, como foi a prática entre certos grupos religiosos daquele época.[15]
Na primeira parte da frase a ênfase no grego está no verbo imperativo methusko (embriagar). Por este termo ser utilizado no imperativo e o primeiro verbo na frase, podemos entender que era de grande importância para o autor. Pela sua forma e colocação na frase é evidente que o ponto de Paulo é de coibir a embriaguez e encorajar o enchimento pelo Espírito. O fato dele ter usado o exemplo de vinho não implica que ele esteja se referindo ao uso apenas desta bebida. Seria equivocado concluir que, por Paulo ter se referido ao vinho que ele estaria conseqüentemente permitindo o uso de qualquer outra forma de bebida para se embriagar. Paulo condenou a embriaguez, usando o vinho apenas como exemplo. É uma implicação daquilo que Paulo declarou que a embriaguez através de qualquer outra substância também seria condenado.
Se Paulo quisesse excluir apenas o vinho ele teria qualificado sua declaração como ele fez em 1 Cor 5:9-11. Naquela passagem ele faz uma clara distinção entre pecadores do mundo e aqueles que se dizem ser irmãos, mas, que continuam no pecado. Se o intuito do apóstolo em Efé 5:18 fosse de excluir apenas o vinho, mas, não excluir outras bebidas, ele poderia ter qualificada a frase de forma a deixar claro que outras bebidas que levassem à embriaguez pudessem ser consumidos. Não tendo feito isso, é uma conclusão natural de que tais substâncias também seriam condenadas.
Alguns sugerem que tenha havido embriaguez entre os membros, como na igreja em Corinto (1 Cor 11:21). Não há nada no contexto que possa indicar isso. “A cláusula de suporte à proibição parece fraca e inapropriada para tal tipo de ofensa.”[16]
No entanto, o fato de Paulo usar o verbo methusko “embriagar” no presente indica pelo menos a possibilidade de que o uso excessivo de vinho era de fato um problema, pelo menos entre alguns na igreja em Éfeso. Uma tradução que sustenta esta idéia é a da Versão Fácil de Ler “E não continuem a se embriagar com vinho, pois isso vai levá-los à ruína espiritual, mas encham-se com o Espírito.”
Especificamente não devemos deixar o vinho nos controlar, mas o Espírito Santo de Deus. Ambas as forças são internas. “Enchei-vos” é um mandamento passivo. O intuito é de deixar o Espírito Santo que habita em nós nos controlar por completo. O vinho que enche uma pessoa controla cada área da sua vida, enquanto aquela pessoa o consome. … Da mesma forma, o crente que permita o Espírito a influenciar e dirigir seu raciocínio e comportamento irá experimentar seu controle desde que ele mantenha aquele relacionamento com o Espírito (veja Luc 1:15; Atos 2:12-21).[17]
Há ocasiões em que a exultação (= intensa alegria) do coração e da mente é inteiramente legítima. A Escritura faz menção de gritos de alegria (Sl 5.11; 32.11; 35.27, etc.), plenitude de alegria (Sl 16.11), boas-novas de grande alegria (Lc 2.10), alegria indizível e cheia de glória (1 Pe 1.8). Entretanto, a alegria é errônea quando a forma de produzi-la é também errônea. Portanto, é impróprio buscar excitamento no excessivo uso do vinho. O que se proíbe é o abuso do vinho, não o seu uso (1 Tm 5.23). Tal abuso era um perigo real na igreja primitiva, como certamente o é também hoje, o que pode ser demonstrado por restrições tais como: “O bispo, portanto, deve ser irrepreensível … não dado ao vinho (=alguém que se detenha junto ao seu vinho)” (1 Tm 3.3; cf. Tt 1.7); “os diáconos igualmente (devem ser) dignos, não … dados a muito vinho” (1 Tm 3.8); “instai com as mulheres mais idosas, igualmente, (a serem) reverentes em seu comportamento … não escravizadas a muito vinho” (Tt 2.3).[18]
v. 18b “no qual há dissolução,
Nossa conclusão quanto à condenação de todo tipo de embriaguez, seja qual for o produto usado se confirma quando vemos que a razão de Paulo condenar a embriaguez com vinho é que ela leva à dissolução (gr. assotia). É legítimo concluir que o uso de outros produtos que levassem à mesma condição (ou seja, a dissolução, a perda de controle) também seriam condenados.
O ponto de Paulo não é só de condenar o uso de vinho em si, mas, o hábito de pessoas ingerirem vinho ao ponto de perder o controle de suas faculdades. Necessariamente, o uso de qualquer outro produto que levasse à mesma situação seria implicitamente condenada.
Se embriagar leva à dissolução – a palavra se refere ao fato da pessoa bêbada perder controle, como também ao desperdício (de recursos e até a própria vida). Estas coisas não tem lugar na vida do crente. … Paulo contrastou o embriagar com vinho, que produz uma sensação prazerosa temporária, com o encher com o Espírito, que produz felicidade duradoura. … Quando uma pessoa está embriagada todo mundo percebe. Suas ações tornam isso óbvio. Da mesma forma, nossas vidas devem ser tão completamente debaixo do controle do Espírito que nossas ações e palavras demonstram que, sem dúvida nenhuma, estamos cheios da presença do Espírito Santo de Deus.[19]
Apesar de Efésios 5:18 ser citado freqüentemente como apoio em esforços contra qualquer uso de bebida, o assunto fundamental é mais profundo do que se tomar ou não bebidas com teor alcoólico. A preocupação principal é, o que – ou quem – estará em controle da sua vida? Ou o Espírito Santo ou outra coisa. E, se for qualquer outra coisa, é um pobre substituto. Se enchendo com álcool pode deixar uma pessoa perder controle e fazer coisas estúpidas. Se enchendo do Espírito deixa a pessoa auto controle (Efé 5:18) e ajuda a adorar a Deus e servir a outros.[20]
Há quem sugira que etimologicamente aswtia descreve a conduta da pessoa que não pode ser salva. Porém, aqui deve-se determinar primeiro qual é o significado legítimo da palavra salvo, em tal caso. E mesmo que isto fosse determinado, ainda permaneceria sendo verdadeiro que, embora a derivação e história das palavras são úteis e lançam luz sobre os significados, é muito mais importante o uso real da palavra num dado contexto. Conseqüentemente, se declaro que a pessoa em questão, se ela assim prossegue, não pode ser salva, tal conclusão não se baseia em etimologia nem em semântica, mas no claro ensino bíblico (1 Co 6.9,10).[21]
v. 18c “mas enchei-vos do Espírito,
A mudança do conceito de embriaguez para o de ser cheio com o Espírito não é tão abrupta quanto pode parecer à primeira vista. O primeiro representa loucura; o último é o pré-requisito para a sabedoria. Ambos envolvem o ser se submetendo ao controle de um poder externo, e os estados de intoxicação alcoólica e religiosa foram freqüentemente comparados. A narrativa de Pentecostes de Lucas onde a experiência dos primeiros crentes de estar cheios do Espírito foi equivocadamente entendida como embriaguez (veja Atos 2:4, 13, 15), freqüentemente é citada nesta conexão, embora não haja nenhuma evidência de que o escritor de Efésios esteja pensando na passagem de Atos.[22]
O enchimento do Espírito é passivo porque nós temos que nos entregar ao Espírito para fazer a vontade dEle com as nossas vidas.[23]
Rom. 6:16 “Não sabeis que daquele a quem vos apresentais como servos para lhe obedecer, sois servos desse mesmo a quem obedeceis, seja do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?”
Rom 6:19 “Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne. Pois assim como apresentastes os vossos membros como servos da impureza e da iniqüidade para iniqüidade, assim apresentai agora os vossos membros como servos da justiça para santificação.”
Rom 12:1 “Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.”
O imperativo está no tempo presente, indicando que a experiência do crente da plenitude do Espírito é para ser contínua … Crentes devem ser cheios pelo Espírito e também cheios com o Espírito. A idéia de ser cheio com o Espírito lembra a de ser tomado de toda a plenitude de Deus (3:19) e a da Igreja como a plenitude de Cristo (1:23, veja também 4:13). Claramente o Espírito é o mediador da plenitude de Deus e de Cristo para o crente.
O comando de ser cheio com o Espírito é posto no centro da passagem e tem ligações com o que antecede – sabedoria – bem como o que segue – adoração. O Espírito provê o poder para ambos os aspectos da vida Cristã. Crentes, já lembrados de que foram selados com o Espírito (1:13; 4:30) e chamados a não entristecerem o Espírito (4:30), agora são exortados a permitirem o Espírito ter o mais completo controle das suas vidas de que eles estejam cientes, e de se abrirem continuamente ao que os pode capacitar a caminharem sabiamente e a entenderem a vontade de Cristo, e que pode inspirar a adoração e ações de graças deles.[24]
Já foi mencionado o poder do Espírito na pessoa interior em 3:16, e antes ainda, na oração intercessora em 1:17, o Espírito foi ligado à sabedoria. A conexão entre estar cheio com o Espírito e a adoração que aparece por meio dos particípios subordinados de vv 19 e 20 não deve ser interpretada como significando que a participação na liturgia da igreja é o que produz a experiência da abundância do Espírito… Os particípios seguintes são interpretados melhor como as conseqüências da experiência em lugar de seus meios.[25]
Provavelmente Lincoln está correto em afirmar que o “falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais” (v. 19) não produzem em si a abundância do Espírito. Certamente eles são a conseqüência de uma vida cheia do Espírito, mas, não deixa de ser verdade que a participação nestas formas de expressão da presença de Deus em nossas vidas também contribuem para que aquela presença seja cada vez mais plena.
… deixe com que a sua mais elevada faculdade, e não a mais baixa, seja ricamente alimentada com aquilo que você almeja, para que os seus poderes especiais sejam capacitados. É presumido que somente o Espírito de Deus pode satisfazer o homem.[26]
plhrousqe seja cheio, isto é, deixe que suas maiores capacidades sejam satisfeitas: busque o enchimento mais completo da sua natureza. Para este sentido absoluto de plhrousqe 1:23; 3:19; Fil 4:18; Col 2:10.[27]
Os efésios são encorajados a buscar a mais elevada e mais perfeita fonte de alegria. Em vez de embriagar-se, devem encher-se. Em vez de embriagar-se com vinho, eles devem encher-se com o Espírito. Observe-se o duplo contraste. [28]
Alguns entendem que é possível que Paulo esteja se referindo não ao Espírito Santo de Deus, mas, ao espírito da própria pessoa. Hendriksen observa “Apresentemos evidências em apoio deste ponto de vista: a. a expressão “cheio com”, ou “cheio de” o pneúma, quando a referência é ao Espírito Santo, é muito comum na Escritura (Lc 1.15, 41, 67; 4.1; At 2.4; 4.8, 31; 6.3; 7.55; 9.17; 13.9);1″ e b. o próprio contraste aqui em 5.18 entre embriagar-se com vinho e ser cheio de o pneúma ocorre também, ainda que de forma levemente diferente, em At 2.4, 13, onde a referência só pode ser ao Espírito Santo.[29]
Este estado de espírito aguçará as vossas faculdades para a percepção da vontade divina. Observe-se o contexto imediato, v. 17: “Por isso não sejais tolos, mas entendei qual (é) a vontade do Senhor.” Portanto, `”não vos embriagueis com vinho, mas enchei-vos do Espírito.”[30]
O foco das palavras de Paulo aqui não é tanto a proibição da embriaguez, porque os crentes provavelmente já compreendiam isso, mas, a exortação dele de que eles fossem continuamente cheios pelo Espírito e vivessem no Espírito. Quando uma pessoa está embriagada, todo mundo percebe. O comportamento dele ou dela mostra isso. Do mesmo modo, nossas vidas devem ser tão controladas pelo Espírito, que nosso comportamento e palavras devem mostrar sem dúvida que somos cheios da presença do Espírito Santo de Deus.[31]
Esta passagem trata de condenar o embriagar com vinho, pois este hábito leva à perda de controle. Em contraste, o Cristão deve se encher do Espírito Santo, pois, como vemos nos versículos seguintes isto leva à edificação que Deus quer. Os atos e atitudes de pessoas que se embriaguem não são dignos do nome de Cristo. O Cristão deve sempre buscar aquilo que o edifica e o leva mais próximo ao Senhor e as coisas que fazem o mesmo para seus irmãos em Cristo. Por implicação, concluímos que esta passagem também condena o hábito de se embriagar com qualquer substancia que possa levar à dissolução, ou seja, à perda de controle. Isto incluiria outras bebidas e até outras substâncias como narcóticos que levassem a pessoa a estados semelhantes como a intoxicação por meio de entorpecentes como drogas.
Cada verdadeiro Cristão tem todo o Espírito Santo, mas este versículo manda que o Espírito Santo possui todo o Cristão.[32]
Estar cheio com o Espírito é o equivalente funcional daquilo que o autor pensa em outro lugar como estar cheio com Cristo (1:23; 4:13) ou estar cheio com Deus (3:19). Como já vimos, abundância era uma noção proeminente no sincretismo helenístico. Os leitores dessa carta estão sendo lembrados de vários modos que a abundância da presença de Deus não é algo no qual eles têm que penetrar por meio de experiências visionárias ou técnicas ascéticas, mas sim, algo a ser incorporado na sua experiência Cristã. Estar cheio com o Espírito não envolve simplesmente experiências místicas particulares, mas a adoração e relacionamentos dentro da comunidade Cristã. O cantar incitado pelo Espírito é dirigido a irmãos, e a submissão mútua de v 21 também é uma manifestação da abundância do Espírito. Assim, o encher-se do Espírito dos crentes significa, de um lado, seu louvor a Cristo e agradecimento a Deus juntos, e, do outro lado, sua comunicação e submissão uns aos outros. De acordo com a perspectiva deste autor, portanto, a plenitude do Espírito somente pode ser experimentada em comunidade.
… O desenvolvimento do argumento nesta seção sugere, porém, que a ênfase na experiência do Espírito e na adoração da comunidade não é pretendida pelo autor para levar a uma obsessão com entusiasmo religioso por si só, ou para uma fixação pela comunidade com sua própria vida e uma retirada correspondente do mundo. Pelo contrário, como foi notado, a passagem liga adoração conduzida pelo Espírito com a sabedoria que é necessária para viver na era presente com toda sua maldade. É precisamente a experiência de estar cheio com o Espírito que dá aos crentes entendimento da vontade de seu Deus, e as canções espirituais que são um meio de promover o conhecimento desta vontade. Deste modo, a adoração da comunidade pode ser vista como fazendo uma contribuição vital a seu modo de viver sabiamente no mundo.
Este modo sábio e cheio do Espírito de viver no mundo será elaborado mais adiante nas relações do código doméstico que segue em 5:21-6:9. O tratamento do escritor da guerra Cristã contra os poderes do mal em 6:10-20 proporciona outro indício de que a retirada do mundo não faz parte da visão dele, e ao mesmo tempo levanta a idéia da relação dos crentes com o Espírito (6:17, 18) e a natureza má do fim dos tempo (6:13; cf. 5:16).[33]
A condenação à embriaguez com vinho em Efé 5:18 se limita a essa bebida, ou se estenderia a qualquer outra bebida que levasse a um estado semelhante de embriaguez ou intoxicação?
No análise da passagem vimos que a ênfase de Paulo foi na embriaguez. O ponto dele não foi de condenar apenas o vinho e conseqüentemente permitir o uso de qualquer outra substância para se embriagar. O objetivo do apóstolo nesta frase foi de condenar a embriaguez, usando o vinho apenas como um exemplo. Há várias evidencias dentro da frase que apontam para esta conclusão.
§ O fato da embriaguez ser o primeiro verbo,
§ Este verbo está no imperativo (embora no negativo por uso da partícula “me”),
§ A condenação à embriaguez é seguida pela referencia ao estado de “dissolução” como conseqüência da embriaguez.
§ Não há nenhuma qualificação que permitiria o uso de outras substâncias que levassem à embriaguez.
Por implicação, ou por meio de princípio, podemos concluir que Efé 5:18 condena não só a embriaguez através do vinho, mas através de outras substâncias alcoólicas que pudessem levar à dissolução.
Será que, por implicação, são condenadas também o uso de outras substâncias tóxicas, tais como entorpecentes?
Alguém poderia argumentar que o entorpecente não é ingerido da mesma forma que o vinho (sendo às vezes injetado ou inalado), e que, por não ser uma substância líquida e alcoólica que não poderia ser entendido como implicação. No entanto, parece que o ponto do apóstolo não foi em limitar o tipo ou a forma pelo qual a pessoa se submetesse ao efeito da substância, e sim, seu efeito. Ou seja, Paulo não parece preocupado com a maneira que a pessoa ingeriu o álcool tanto quanto ele estava com o efeito final, a embriaguez e a dissolução. Se um outra substância ingerida de outra forma, queira injetada ou de qualquer outro meio, levasse a um efeito semelhante à embriaguez, nos parece razoável concluir que seria igualmente condenado.
Os dicionários gregos definem o termo “embriaguez” “methusko” com as mesmas palavras que são usadas para descrever pessoas usando substâncias tóxicas como entorpecentes. Os dicionários definem o estado de “methusko” como “intoxicado”. Se o termo usado por Paulo também tem um sentido mais geral de “intoxicar”, o mesmo termo usado para descrever pessoas sob o efeito de drogas, então é razoável concluir que outras substâncias (como drogas) que levassem a esse mesmo estado seriam igualmente condenados, com base nesta passagem por implicação.
No análise do termo “embriaguez” vimos que o termo pode ser aplicado a várias substancias como a chuva, a gordura de sacrifícios, a ira de Deus e o sangue dos inimigos de Deus. O termo pode ser empregado em diversas situações, tais como o povo ficando atordoado com o sofrimento causado pela ira de Deus, as terras ficando saturadas com as chuvas, a espada do Senhor se fartando com o sangue de seus inimigos e a grande meretriz se embriagando com o sangue dos santos.
Pela grande diversidade de aplicações do termo e situações em que é empregado, podemos concluir que o conceito de embriaguez não se limitava apenas ao uso de substâncias alcoólicas. O termo “embriagar” era usado para descrever situações ou estados em que havia saciamento, fartura, ou um estado parecido com a intoxicação, embora sendo causado por substâncias não relacionadas normalmente com a bebida, como a ira de Deus, ou o sangue dos santos.
Sendo assim, é legítimo concluir que o conceito de “embriaguez”, como usado em Efésios 5:18 pode ser aplicado, por implicação, a estados de intoxicação, como aqueles provocados pelo uso de entorpecentes, embora estes não existiam na época do primeiro século. Não estamos afirmando que Paulo em Efésios 5:18, por implicação, estaria se referindo a todas as situações e usos da palavra mencionadas. Mas, é válido entender que uma implicação legítima deste versículo seria na condenação da intoxicação por meio de entorpecentes, embora estes não existiam na época. Isto seria válido porque o termo empregado por Paulo, “embriaguez” tinha um uso comum muito além da referencia apenas à ingestão de bebidas alcoólicas. O termo foi amplamente usado em diversas situações em que houve perda de controle de si, ou excessos que são características de uma vida desenfreada.
Podemos concluir também, que, apesar do termo usado ser o de “embriaguez”, estados semelhantes de intoxicação, como ocorrem com o uso de entorpecentes como maconha, heroína e outras drogas seriam igualmente condenadas como base nesta passagem, pois elas também levam à dissolução. A exortação positiva de Paulo para que os Cristãos se enchessem do Espírito Santo é justamente o contrário do que acontece com o uso de entorpecentes e bebidas alcoólicas que levam à perda de controle mental e dos sentidos. Evidentemente, qualquer substância que levasse um Cristão a perder o controle da sua vida, que é para ser do Espírito, é para ser evitada e é condenável.
Na prática, esta passagem demonstra que o uso de substâncias que levam à embriaguez, ou a estados semelhantes, como é o caso de várias drogas, é condenável. O Cristão não pode participar nestas práticas.
Como princípio, a passagem pode também ser usada para ensinar que estados semelhantes como a dependência em ações como jogos ou outros vícios levam ao caminho contrário da vontade de Deus. Não podemos dizer que, baseado nesta passagem tais coisas são “pecados”, mas, podemos mostrar, através do exemplo desta passagem que, o que Deus quer para nós é o domínio do Espírito em toda nossa vida. Na medida que nos enchermos do Espírito não haverá espaço para o domínio de outras forças ou vícios.
Quem está em controle? Embora Efésios 5:18 seja freqüentemente citado como apoio para condenar o uso de álcool, a questão fundamental é mais profunda do que o tomar ou não de bebida alcoólica. A preocupação mais importante é o que – ou quem – vai controlar a sua vida? Será o Espírito Santo que vai, ou será outra coisa. E seja qual for aquela outra coisa, é um substituto pobre. Encher-se com álcool pode levar você a perder controle e fazer coisas estúpidas. Encher-se do Espírito Santo lhe dá auto-controle (Gál 5:23) e lhe ajuda a adorar a Deus e servir a outros.[34]
“Como é que você se enche do Espírito? Da mesma forma que você se embriague com vinho: você toma muito. E Paulo deixou bastante claro como nós bebemos o Espírito. Em 1 Cor 2:14 vemos que é por aceitar as coisas do Espírito; em Rom 8:5 é por ter a mente voltada para as coisas do Espírito. … você precisa encher dia e noite com a Palavra de Deus. Debruce sobre ela, memorize, mastigue. Coloque como um confeite debaixo da sua língua e deixa que ela acrescente sabor a suas afeições dia e noite.[35]
Imagine que Paulo tivesse visitado a igreja em Éfeso tempos depois e encontrou muitos membros embriagados. Ao questionar este comportamento, Paulo indaga “Vocês não leram a minha carta na qual eu disse para não se embriagarem com vinho?” E, os membros respondem “Sim, Paulo, desde que lemos a sua carta trocamos o vinho por cerveja.” Como você acha que Paulo teria reagido? Você acha que Paulo teria respondido “Ah, desde que não seja com vinho, pode beber até cair.”?[36]
Imagine outra situação. Seu filho recebe R$10 dos avós como presente de aniversário. Você sabe que ele está louco para comprar um CD de música na loja da esquina. Você quer que ele poupe este dinheiro. Então, você diz “Filho, não use o dinheiro que ganhou de seu avô para comprar aquele CD na loja da esquina.”
Mais tarde você chega em casa e vê ele tocando o novo CD. Você questiona ele “Filho, eu não disse para você não ir na loja da esquina comprar esse CD?” e ele responde. “Mas, pai, não comprei na loja da esquina. Fui na cidade e comprei.” Você diria “Ah, então está tudo bem. Pode ficar.”[37]
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[1] J.A. Robinson citado em comentário em A. Skevington Wood “Carta aos Efésios” (Commentary on Ephesians) na série Expositors Bible Commentary, Grand Rapids: Baker, 1978, Online.
[2] Lincoln, A. T. (2002). Vol. 42: Word Biblical Commentary : Ephesians. Word Biblical Commentary. Dallas: Word, Incorporated, p. 303.
[3] Vine, W.E., Merril F. Unger e William White Jr. Dicionário Vine, tradução Luís Aron de Macedo, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2002, p. 431.
[4] Gingrich, F. Wilbur e Frederick W. Danker, Léxico do Novo Testamento Grego / Português, São Paulo: Edições Vida Nova, 1983, tradução Júlio P.T. Zabateiro, p. 131.
[5] Bauer, W., Arndt, W.F., Gingrich, F.W., and Danker, F. A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Chrisitian Literature. [BAGD], 2d English ed. Chicago: University of Chicago Press, 1979, p. 499; Kittel, Gerhard, and Gerhard Friedrich, Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids: William B. Eerdmans, 1964. Vol. 4, p. 545; Brown, Colin, The New International Dictionary of New Testament Theology, Grand Rapids: Zondervan, 1986, Online, Zondervan Reference Software.; Swanson, J. (1997). Dictionary of Biblical Languages with Semantic Domains : Greek (New Testament) (electronic ed.) (GGK3499). Oak Harbor: Logos Research Systems, Inc.
[6] Preisker, Herbert artigo “μέθη, μεθύω, μέθυσος μεθύσκομαι” em Dicionário Teológico do Novo Testamento, Theological dictionary of the New Testament. 1964-c1976. Vols. 5-9 edited by Gerhard Friedrich. Vol. 10 compiled by Ronald Pitkin. (G. Kittel, G. W. Bromiley & G. Friedrich, Ed.) Grand Rapids, MI: Eerdmans. (Vol. 4, Page 546).
[7] Preisker, Herbert artigo “μέθη, μεθύω, μέθυσος μεθύσκομαι”, idem.
[8] Budd, P.J., artigo “Sóbrio, Bêbado” em Colin Brown, O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Edições Vida Nova, 1978, tradução Gordon Chown, Vol. 4, p. 517.
[9] Vine, W.E., Merril F. Unger e William White Jr. Dicionário Vine, idem p. 1061.
[10] Gingrich, F. Wilbur e Frederick W. Danker, Léxico do Novo Testamento Grego / Português, idem, p. 145.
[11] Vine, W.E., Merril F. Unger e William White Jr. Dicionário Vine, idem, p. 953.
[12] Gingrich, F. Wilbur e Frederick W. Danker, Léxico do Novo Testamento Grego / Português, São Paulo: Edições Vida Nova, 1983, tradução Júlio P.T. Zabateiro, p. 37.
[13]Lincoln, A. T. (2002). Vol. 42: Word Biblical Commentary : Ephesians. Word Biblical Commentary (Page 344). Dallas: Word, Incorporated.
[14] Barton, B. B., & Comfort, P. W. (1996). Ephesians. Life application Bible commentary (Eph 5:18). Wheaton, Ill.: Tyndale House Publishers, p. 108.
[15]Bratcher, R. G., & Nida, E. A. (1993). A handbook on Paul’s letter to the Ephesians. Originally published under title: A translator’s handbook on Paul’s letter to the Ephesians.1983. UBS handbook series; Helps for translators (Page 134). New York: United Bible Societies.
[16]Lincoln, A. T. (2002). Vol. 42: Word Biblical Commentary : Ephesians. Word Biblical Commentary (Eph 5:18). Dallas: Word, Incorporated.
[17] Constable, Dr. Thomas L. “Notes on Ephesians” 2000 Edition.
[18] Hendriksen, William Hendriksen, “Efésios” São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1992, p. 297.
[19] Barton, B. B., & Comfort, P. W. (1996). Efésiso (Ephesians.) Idem.
[20] Barton, B. B., & Comfort, P. W. (1996). Efésiso (Ephesians.) Idem.
[21] Hendriksen, William Hendriksen, “Efésios” São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1992, p. 297, nota 143.
[22]Lincoln, A. T. (2002). Vol. 42: Word Biblical Commentary : Ephesians. Word Biblical Commentary (Page 344). Dallas: Word, Incorporated.
[23] Veja artigo de Henry W. Holloman “Basic Biblical Principles Of Christian Nurture And Some Considerations For Their Contextualization” Michigan Theological Seminary. (1990;2002). Michigan Theological Journal Volume 1 (Vol. 1, Page 12). Michigan Theological Seminary.
[24]Lincoln, A. T. (2002). Vol. 42: Word Biblical Commentary : Ephesians. Word Biblical Commentary (Page 344). Dallas: Word, Incorporated.
[25]Lincoln, A. T. (2002). Vol. 42: Word Biblical Commentary : Ephesians. Word Biblical Commentary (Page 344). Dallas: Word, Incorporated.
[26]Saint Paul’s Epistle to the Ephesians: The Greek text with notes and addenda. 1909 (B. F. Westcott, bp. of Durham & J. M. Schulhof, [from old catalog, Ed.) (Page 81). London; New York: Macmillan and co., limited; The Macmillan company.
[27]Saint Paul’s Epistle to the Ephesians: The Greek text with notes and addenda. 1909 (B. F. Westcott, bp. of Durham & J. M. Schulhof, [from old catalog, Ed.) (Page 81). London; New York: Macmillan and co., limited; The Macmillan company.
[28] Hendriksen, William Hendriksen, “Efésios” São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1992, p. 298.
[29] Hendriksen, William Hendriksen, “Efésios” São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1992, p. 298.
[30] Hendriksen, William Hendriksen, “Efésios” São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1992, p. 299.
[31]Barton, B. B., & Comfort, P. W. (1996). Ephesians. Life application Bible commentary (Page 109). Wheaton, Ill.: Tyndale House Publishers.
[32] Rapp, Clifford “Ephesians 5:18: Holy Spirit or Human Spirit?” © 1996 Chafer Theological Seminary http://www.bible.org/chafer, tradução do autor.
[33]Lincoln, A. T. (2002). Vol. 42: Word Biblical Commentary : Ephesians. Word Biblical Commentary (Page 348). Dallas: Word, Incorporated.
[34]Barton, B. B., & Comfort, P. W. (1996). Ephesians. Life application Bible commentary (Page 109). Wheaton, Ill.: Tyndale House Publishers.
[35] Piper, John “Pregação Como Adoração: Meditações Exultação Expositória” (“Preaching As Worship: Meditations on Expository Exultation”) Trinity Evangelical Divinity School. (1995;2002). Trinity Journal Volume 16 (Vol. 16, Page 44). Trinity Evangelical Divinity School.
[36] Stein, Robert “The Benefits Of An Author-Oriented Approach To Hermeneutics” The Evangelical Theological Society. (2001;2002). Journal of the Evangelical Theological Society Volume 44 (Vol. 44, Page 451).
[37] Stein, Robert, “The Benefits Of An Author-Oriented Approach To Hermeneutics”, idem.
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