deMax Lucado
G.R. Tweed olhou pelas águas de Pacífico para o navio americano no horizonte. Limpando o suor de selva dos seus olhos, o jovem oficial naval engoliu profundamente e tomou sua decisão. Esta poderia ser a única chance dele para fugir.
Tweed estava se escondendo na ilha de Guam durante três anos. Quando o exército japonês ocupou a ilha em 1941, ele se escondeu no denso matagal tropical. Sobreviver não havia sido fácil, mas ele preferiu o pântano a um campo de prisioneiros de guerra.
Tarde naquele dia, 10 de julho de 1944, ele percebeu o navio aliado. Ele correu para cima de uma colina e se posicionou em um precipício. De dentro da sua mochila, ele tirou um espelho de mão. Às 18:20 ele começou a enviar sinais em código Morse. Segurando a extremidade do espelho nos dedos, ele o inclinou de um lado para outro, refletindo os raios do sol em direção ao barco. Três sinais curtos. Três longos. Três curtos novamente. Ponto-ponto-ponto. Traço-traço- traço. Ponto-ponto-ponto. S-O-S.
O sinal chamou a atenção de um marinheiro a bordo do USS McCall. Uma equipe de resgate embarcou num bote motorizado e passou despercebido na angra além do alcance das armas do litoral. Tweed foi salvo.[1]
Ele estava feliz por ter aquele espelho; feliz porque soube usá-lo, e feliz porque o espelho cooperou. Suponha que não tivesse. (Prepare-se para um pensamento absurdo.) Suponha que o espelho tivesse resistido, empurrado sua própria agenda? Em lugar de refletir uma mensagem do sol, imagine se tivesse optado por enviar algo próprio? Afinal de contas, três anos de isolamento deixariam qualquer um faminto por atenção. Em lugar de enviar um S-O-S, o espelho poderia ter enviado um O-P-M “Olhe para mim.”
Um espelho egoísta?
O único pensamento mais absurdo seria um espelho inseguro. E se eu estragar tudo? E, se eu envio um traço quando devo enviar um ponto? Além disso, você já viu as manchas na minha superfície? Duvidar de si mesmo poderia paralisar um espelho.
Da mesma forma seria auto-piedade. Enfiado naquela mochila, arrastado por selvas, e agora, de repente espera-se que eu enfrente o sol brilhante e execute um serviço crucial. De jeito nenhum. Fico no pacote. Não sai nenhuma reflexo de mim.
Ainda bem que o espelho de Tweed não teve uma mente própria.
E os espelhos de Deus? Infelizmente nós temos.
Nós somos os espelhos dele, sabe: ferramentas da heliografia celestial. Reduza a descrição de trabalho humano numa frase e é isto: refletir a glória de Deus. É como Paulo escreveu: “Portanto, todos nós temos o rosto descoberto e refletimos como um espelho a glória do Senhor. Nós somos transformados na sua própria imagem com uma glória cada vez maior. E esta é a obra do Senhor, que é o Espírito. (2 Cor 3:18 VFL)
Um leitor acabou de levantar uma sobrancelha. Espere um momento, você está pensando. Eu li aquela passagem antes, mais de uma vez. E soou diferente. Realmente, pode ter acontecido. Talvez seja porque você está acostumado a ler em uma outra tradução. “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.” (ARA, ênfase minha).
Uma tradução diz, “contemplando, como por espelho”, outra diz, “refletimos como um espelho”. Uma implica contemplação; a outra refração. Qual é certa?
De fato ambas. O verbo katoptrizo pode ser traduzido das duas maneiras. Há tradutores que tomam ambos os lados:
“refletindo, como um espelho” (ARC)
“contemplamos a glória do Senhor” (NVI com nota de rodapé indicando que pode ser também “refletimos”)
“contemplamos como num espelho a glória do Senhor” (Bíblia de Jerusalém, com nota semelhante à NVI)
“refletimos a glória que vem do Senhor” (NTLH)
Mas qual significado Paulo tinha em mente? No contexto da passagem, Paulo compara a experiência Cristã à experiência de Moisés no monte Sinai. Depois que o patriarca contemplou a glória de Deus, a face dele refletiu a glória de Deus. “os israelitas não podiam fixar os olhos na face de Moisés, por causa do resplendor do seu rosto” (v. 7 NVI).
A face de Moisés estava tão deslumbrante que “o povo de Israel não podia nem mais olhar para ele do que para o sol” (v. 7 Tradução em inglês A Mensagem).
Ao ver Deus, Moisés não podia fazer outra coisa senão refletir Deus. O brilho que ele viu foi o brilho no qual ele se tornou. Vendo levou a sendo. Sendo levou a refletindo. Talvez a resposta para a pergunta de tradução, então, é “sim.”
Paulo quer dizer “vendo como em um espelho”? Sim.Paulo quer dizer “refletindo como um espelho”? Sim.
Será que o Espírito Santo intencionalmente selecionou um verbo que nos lembraria a fazer ambos? Contemplar Deus tão atentamente que nós não conseguimos fazer outra coisa senão refleti-lo?
O que significa ver seu rosto em um espelho? Um relance rápido? Um olhar casual? Não. Ver é estudar, fitar, contemplar. Ver a glória de Deus, então, não é nenhum olhar lateral ou relance ocasional; este ver é ponderar seriamente.
Não é isso que nós fizemos? Nós acampamos aos pés do monte Sinai e vimos a glória de Deus. Sabedoria inescrutável. Pureza sem mancha. Anos sem fim. Força destemida. Amor imensurável. Vislumbres da glória de Deus.
Enquanto vemos a glória dele, podemos ter a ousadia de orar que nós, como Moisés, possamos refleti-lo? Podemos ousar sonhar em ser espelhos nas mãos de Deus, o reflexo da luz de Deus? Esta é o chamado.
“Fazei tudo para a glória de Deus.” (1 Cor. 10:31).
Tudo? Tudo.
Deixe sua mensagem refletir a glória dele. “Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus.” (Mt. 5:16 NVI).
Deixe sua salvação refletir a glória de Deus. Tendo “nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa” (Efé. 1:13,14 ARA).
Deixe seu corpo refletir a glória de Deus. “Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.” (1 Cor. 6:20 ARA).
Suas lutas. “Tudo isso é para o bem de vocês, para que a graça, que está alcançando um número cada vez maior de pessoas, faça que transbordem as ações de graças para a glória de Deus.” (2 Cor. 4:15 NVI, veja também João 11:4).
Seu sucesso honra Deus. “Honra ao SENHOR com os teus bens” (Prov. 3:9 ARA). “Riquezas e glória vêm de ti” (1 Crô. 29:12). “É ele o que te dá força para adquirires riquezas” (Deut. 8:18).
Sua mensagem, sua salvação, seu corpo, suas lutas, seu sucesso – todos proclamam a glória de Deus.
“E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.” (Col. 3:17 ARA)
Ele é a fonte; nós somos o vaso. Ele é a luz; nós somos os espelhos. Ele envia a mensagem; nós a refletimos. Nós descansamos na mochila dele esperando o chamado dele. E quando colocados nas mãos dele nós fazemos o trabalho dele. Não é sobre nós, é tudo sobre ele.
Ao Sr Tweed usar um espelho, houve um salvamento.
Que haja milhões a mais quando Deus nos usar.
[1] Dicionáriode Navios Americanos de Guerra (Dictionary of American Naval Fighting Ships-Office of the Chief of Naval Operations Naval History Division- Washington)www.ibiblio.org/hyperwar/USN/ships/dafs/DD/dd400.html
Copyright © 2004 Max Lucado.
Integrity Publishers, Nashville, Tn.
Reproduzido com permissão.
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