O que realmente importa?
de Max Lucado
“Só quero saber o que tem importância.” Forte sotaque irlandês. Olhos escuros, profundos. A frase era sincera. “Não me fale de religião, já andei por esse caminho. E, por favor, fique fora da teologia. Tenho um diploma nisso. Vá fundo no assunto, está bem? Quero saber o que importa.”
O nome dele era Ian. Era aluno de uma universidade canadense que eu estava visitando. Através de uma série de acontecimentos ele descobriu que eu era cristão e eu descobri que ele queria ser, mas estava decepcionado.
“Cresci na igreja”, explicou. “Queria entrar para o ministério. Fiz todos os cursos: teologia, línguas, exegese. Mas desisti. Alguma coisa não parecia ajustar-se.”
“Ela está em algum lugar”, exclamou com convicção. “Pelo menos penso que está.”
Olhei por cima do meu café, enquanto ele mexia o seu. A seguir, Ian resumiu sua frustração com uma pergunta.
“O que realmente importa? O que tem valor? Diga-me. Deixe a periferia. Penetre na essência. Diga-me o que importa realmente.
O que tem importância.
Olhei longo tempo para Ian. A pergunta pairava no ar. O que deveria ter dito? O que poderia ter dito? Eu poderia falar-lhe sobre a igreja. Poderia ter-lhe dado uma resposta doutrinária ou lido para ele um clássico como o Salmo 23, “0 Senhor é o meu pastor…” Mas tudo parecia-me pequeno demais. Tal-vez alguns pensamentos sobre sexualidade ou oração sobre a Regra de Ouro. Não, Ian queria o tesouro — ele queria o cerne.
Pare um pouco e pense. Você está ouvindo a pergunta dele? Pode sentir a sua frustração? “Não me fale de religião. Fale-me do que importa”, era o que estava dizendo.
O que importa?
Em sua Bíblia de mais de mil páginas, o que tem valor? Em meio a todos os “faça” e “não faça” e “deve e não deve”, o que é essencial? O que é indispensável? O Antigo Testamento? O Novo? A graça? O batismo?
O que você teria dito a Ian? Teria falado do mal no mundo ou talvez da iminência do céu? Teria citado João 3.16 ou Atos 2.38 ou talvez lido 1 Coríntios 13?
O que realmente importa?
Você provavelmente já lutou com esta pergunta. Talvez tenha realizado atos de religião e fé, mas encontrou-se com freqüência num poço seco. As orações parecem vazias. Os objetivos inconcebíveis. O cristianismo se torna um registro tortuoso de altos e baixos e notas fora de tom.
Será que isso é tudo? Freqüência aos domingos. Hinos bonitos. Ternos com colete. Coros enormes. Bíblias encadernadas. Isso é bom, mas… onde está o coração, o centro?
Mexi meu café. Ian mexeu o dele. Eu não tinha resposta. Todos os versículos memorizados tão obedientemente pareciam inadequados. Todas as minhas respostas prontas se mostravam tímidas.
Todavia agora, anos depois, sei o que teria dito a ele.
Pense nestas palavras de Paulo em 1 Coríntios, capítulo 15.
“Antes de tudo vos entreguei (como de primeira importância) o que também recebi; que Cristo morreu pelos nossos pecados segundo as Escrituras. (1 Coríntios 15:3,4)
Da primeira importância, diz ele.
Continue lendo:
E que foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E apareceu a Cefas, e, depois, aos doze.
Aí está. Quase simples demais. Jesus foi morto, sepultado, e ressuscitou. Surpreso? A parte que importa é a cruz. Nada mais que isso.
A cruz.
Ela repousa sobre a linha da história como um diamante atraente. Sua tragédia apela a todos os sofredores. Seu absurdo atrai todos os cínicos. Sua esperança seduz todos os que buscam.
Segundo Paulo, a cruz é o-que tem valor.
Que grande pedaço de madeira! A história fez dele um ídolo e desprezou-a, cobriu-a de ouro e queimou-a, usou-a e esmagou-a. A história fez tudo com ela, menos ignorá-la.
Essa é a única opção que a cruz não oferece.
Ninguém pode ignorá-la! Você não pode ignorar um pedaço de madeira do qual pende a maior reivindicação da história. Um carpinteiro crucificado, alegando ser Deus na terra? Divino? Eterno? Matador da morte?
Não é de admirar que Paulo a tenha chamado de “coração do evangelho”. A sua última linha faz refletir. Se o seu relato é verdadeiro, trata-se do eixo da história. Ponto. Se não for, é o maior logro da história.
Essa a razão pela qual é a cruz que conta. É por isso que eu falaria com Ian sobre ela se pudesse tomar café novamente corn ele. Contaria o drama daquele dia ventoso de abril, o dia em que o reino da morte foi retomado e a esperança encarregou-se dos pagamento tos. Mencionaria a queda de Pedro, a hesitação de Pilatos e a lealdade de João. Leríamos sobre o jardim enevoado da decisão e o lugar incandescente da ressurreição. Discutiríamos as palavras finais pronunciadas tão deliberadamente por este Messias auto-sacrificado.
Finalmente olharíamos para o próprio Messias. Um trabalhador judeu braçal, cuja afirmação transformou o mundo e cuja promessa jamais foi igualada.
Não é de admirar que o chamem Salvador.
É possível que esteja me dirigindo a alguns leitores que queiram fazer a mesma pergunta de Ian. A cruz não é novidade para você. Você já a viu. Já a usou. Já pensou nela. Já leu sobre ela. Talvez tenha até orado para ela. Mas, será que a conhece?
Qualquer estudo sério da reivindicação cristã, em sua essência, é um estudo da cruz. Aceitar ou rejeitar Cristo sem um exame cuidadoso do Calvário é como decidir comprar um carro sem verificar o motor. Ser religioso sem conhecer a cruz é como ter um Mercedes sem motor. Uma embalagem bonita, mas onde está o seu poder?
Quer fazer-me um favor? Pegue uma xícara de café, fique à vontade e dê-me uma hora de seu tempo. Olhe bem para a cruz junto comigo. Vamos examinar essa hora na história. Vamos observar as testemunhas. Vamos ouvir as vozes. Vamos observar os rostos. E, acima de tudo, examinemos aquele que chamam de Salvador. Vejamos então se podemos descobrir a parte que importa.
Veja também “Qual voz você escuta?”- de Max Lucado.
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