Pronto Para o Desafio?
de Tremper Longman III
À luz do que temos dito sobre os princípios da hermenêutica, espero que você seja inspirado a voltar-se para a Palavra com um novo vigor, com um coração transbordante de uma nova esperança. Como vimos, a interpretação não é necessariamente uma tarefa fácil. Num certo nível, poderíamos considerá-la um grande desafio, pois o mesmo livro que gentilmente nos convida a pisar em águas que curam a vida espiritual, talvez nos cause uma ansiedade significativa; e, portanto, somos tentados a permanecer à margem do medo dos redemoinhos das “interpretações rápidas”. O escritor Frederick Buechner resume, eloqüentemente, este paradoxo descrevendo tanto esse desafio assustador quanto a atração constrangedora que a Bíblia nos traz:
“[Poderíamos dizer que]… é uma coleção confusa de sessenta livros bizarros que freqüentemente são monótonos, estranhos, obscuros, ricos de contradições e inconsistências. É uma grande quantidade de livros, uma mistura de poesia e propaganda; leis e legalismo; mitos e obscuridade; história e histeria. Através dos séculos transformou-se em um evangelismo associado à piedade árida, cheia de superstição sobrenatural e moralização puritana, com um autoritarismo eclesiástico e uma expressão literal enfraquecida.
E mais — Por ser um livro que trata tanto do sublime como do inexprimível, é também um livro que fala da vida como ela realmente é. É um livro acerca de pessoas que, num determinado tempo e também concomitantemente, podem tanto crer quanto descrer, podem ser inocentes ou culpadas, guerreiras por uma causa nobre ou trapaceiras, cheias de esperança e de desesperos.
Em outras palavras, é um livro que fala a nosso respeito.”[1]
É verdade. Apesar de todo o seu potencial, que funde urna variedade de estilos e ternas, a Bíblia apresenta uma história e uma mensagem bem simples — uma história a nosso respeito, e tudo sobre o amor de Deus por nós. Ele nos fez, entretanto, pecamos e quebramos a comunhão com ele. Ele nos comprou e proveu a salvação enviando seu Filho para morrer em nosso lugar na cruz. E Deus o ressuscitou dentre os mortos a fim de crermos nele e segui-lo pelo resto de nossa vida.
Podemos pensar na Palavra como um diamante – urna única jóia com muitas facetas. Podemos olhar uma faceta do mesmo diamante, mas com uma perspectiva bem diferente. Deus nos relata uma maravilhosa história através dos diferentes tipos de escritos literários que refletem a grandeza e a riqueza da vida.
A coisa mais importante a ser lembrada ao abordarmos a Bíblia é nos aproximarmos dela com o coração aberto, para ouvir o que Deus falará diretamente a ele. Ele cuida de você e das suas preocupações mais íntimas. Não permita que princípios ou comportamentos afastem o poder do seu encontro com ele. Mas use-os como um guia para uma interpretação precisa.
Nos capítulos seguintes, exploraremos os diferentes gêneros que Deus escolheu para falar ao nosso coração e mente. Descreveremos cada um deles e salientaremos em que parte da Bíblia você pode encontrá-los. Aprenderemos o modo adequado para ler cada gênero a fim de certificarmo-nos de que a mensagem divina está sendo compreendida da maneira que Deus pretendia. E, por fim, refletiremos a respeito da razão pela qual Deus usou esses estilos particulares de composição literária para comunicar sua mensagem de salvação e transformação espiritual através de Jesus Cristo.
[1]Frederick Buechner, “Wishful Thinking” (São Francisco: HarperCollins, 1993), p. 9.
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O livro de Tremper Longman III do qual este texto foi extraído, “Lendo a Bíblia com O Coração e aMente“, pode ser encomendado da Editora Cultura Cristã selecionando a capa do livro ao lado: