DEVO APRENDER A COMO INTERPRETAR A BÍBLIA?
(Continuação)
de D. A. Carson
Princípio IV
Examine Cuidadosamente a Explicação Bíblica Para Qualquer Afirmação ou Mandamento
O propósito deste conselho não é sugerir que se você não puder discernir a explicação você deva desdenhar o dado mandamento. É insistir que Deus nem é arbitrário, nem caprichoso, e na maioria das vezes ele provê razões e estrutura de pensamento por trás das verdades que ele revela e mandamentos que faz. Tentar desvendar esta explicação pode ser um auxílio na compreensão da essência daquilo que Deus está dizendo e qual a expressão cultural apropriada do que ele está dizendo.
Antes de eu dar alguns exemplos, é importante reconhecer que toda a Escritura está atrelada à cultura. De início, a Escritura foi dada em linguagem humana (Hebraico, Aramaico e Grego), e línguas são fenômenos culturais. Nem se deve pensar que as palavras que Deus fala são, digamos, como em Grego genérico. Pelo contrário, aquelas palavras pertenciam ao Grego do período helenista; não é Grego homérico, ou atiço, ou moderno. De fato, este Grego muda um tanto de escritor para escritor: Paulo nem sempre usa as palavras da mesma forma como Mateus as usa. Nada disto deve nos causar espanto. É parte da glória do nosso grande Deus que ele tenha se acomodado à fala humana, algo que é atrelado ao tempo e, portanto, mutável. Apesar de alguns filósofos pós-modernos, estas observações não prejudicam a capacidade de Deus em comunicar verdades. Isto significa que seres humanos finitos nunca saberão a verdade exaustivamente, isto exigiria onisciência; mas não há razão por que não possamos conhecer algumas verdades de verdade. Entretanto, toda verdade como Deus a revela para nós em palavras vem vestida em formas culturais. Uma interpretação cuidadosa e temente não significa retirar tais formas para descobrir a verdade absoluta por baixo, pois isto não é possível. Nós nunca podemos escapar a nossa finitude. Isto significa compreender aquelas formas culturais, e pela graça de Deus descobrir as verdades que Deus revelou através delas.
Então, quando Deus ordena as pessoas rasgarem suas vestes e colocarem pano de saco e cinzas, são estas ações a própria essência do arrependimento de modo que não há verdadeiro arrependimento sem elas? Quando Paulo nos diz para saudar uns aos outros com ósculos santos, ele quer dizer que não há saudação cristã verdadeira sem tal beijo?
Quando examinamos a explicação de tais práticas, e perguntamos se cinzas e ósculos são ou não integradamente relacionados à revelação de Deus, nós conseguimos ver além. Não existe uma teologia do beijo; existe a teologia do amor mútuo e a comunhão comprometida entre os membros da igreja. Não existe uma teologia do pano de saco e cinzas; existe teologia do arrependimento que exige tanto uma tristeza radical, como uma profunda mudança.
Se este raciocínio estiver correto, ele vai se aplicar tanto sobre a prática do lava-pés e do uso do véu. Além do fato que o lava-pés aparece apenas uma única vez no Novo Testamento como algo ordenado pelo Senhor, o ato em si está teologicamente preso, em João 13, a urgente necessidade de humildade entre o povo de Deus, e à cruz. Semelhantemente, não existe uma teologia do véu, mas há uma teologia profunda e recorrente daquilo do qual o véu foi uma expressão do Corinto do primeiro século: a devida relação entre homens e mulheres, entre maridos e esposas.
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O Dr. D. A. Carson ensina Novo Testamento na Trinity Evangelical Divinity School e tem mais de vinte livros do seu próprio punho, entre as quais emportuguês temos: “Comentário do Evangelho de João” da Shedd Publicações e “Os Perigos da Interpretação Bíblica” e “Introdução ao Novo Testamento” (co-editado com Douglas Moo e Leon Morris), ambos da Editora Vida Nova.