DEVO APRENDER A COMO INTERPRETAR A BÍBLIA?
(Continuação)
de D. A. Carson
Princípio VIII
Tome cuidado com comparações e analogias, considerando sempre o contexto imediato e remoto.
“Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente.” (Heb 13:8). Uma vez que ele nunca recusou curar ninguém que se lhe aproximava durante os seus dias na carne, e uma vez que ele é o mesmo ontem e hoje e eternamente, portanto, ele curará a todos que se lhe aproximam para serem curados hoje. Já me apresentaram este argumento mais de uma vez. Mas com a mesma moeda, claro, Heb 13:8 poderia ser usado para provar que uma vez que ele foi mortal diante de uma cruz, ele ainda deve ser mortal hoje; ou uma vez que ele foi crucificado pelos romanos, e ele é o mesmo ontem e hoje e eternamente, ele ainda está sendo crucificado pelos romanos hoje.
A verdade da questão é que comparações e analogias são sempre autolimitadas em um aspecto ou outro. Do contrário, você não estaria lidando com comparações e analogias, mas com duas ou mais coisas que são idênticas. O que torna uma comparação ou analogia possível é que duas coisas diferentes são semelhantes em certos aspectos. É sempre crucial descobrir os planos nos quais os paralelos operaram; algo que é freqüentemente esclarecido pelo contexto, e assim recusar generalizações a mais.
Um discípulo é para ser como seu mestre; nós devemos imitar Paulo, assim como Paulo imita Cristo. Em que aspectos? Devemos andar sobre as águas? Devemos limpar o local do templo com um chicote? Devemos infalivelmente curar aqueles que estão enfermos e aqueles que nos pedirem ajuda? Devemos miraculosamente prover comida para milhares de pessoas, tiradas de um lanche de um garotinho? Devemos ser crucificados? Tais questões não podem ser respondidas com um simples “sim” ou “não”. É digno de observação que a maioria das injunções nos evangelhos para seguir Jesus ou fazer o que ele faz estão ligadas a sua auto-abnegação, por exemplo: assim como ele foi odiado, assim nós devemos esperar sermos odiados (João 15:18); assim como ele tomou o lugar de um servo e lavou os pés dos discípulos, assim devemos lavar os pés uns dos outros (João 13); assim como ele foi à cruz, assim devemos tomar nossas cruzes e segui-lo (Mat 10:38; 16:24; Luc 14:27). Deste modo a resposta a pergunta: “Devemos ser crucificados?” é certamente um “sim” e “não”. Não, não literalmente, a maioria de nós terá que dizer, e ainda tal resposta não autoriza uma completa fuga da exigência de tomar nossa cruz e segui-lo. Então, neste caso a resposta é “sim”, mas não literalmente.
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O Dr. D. A. Carson ensina Novo Testamento na Trinity Evangelical Divinity School e tem mais de vinte livros do seu próprio punho, entre as quais em português temos: “Comentário do Evangelho de João” da Shedd Publicações e “Os Perigos da Interpretação Bíblica” e “Introdução ao Novo Testamento” (co-editado com Douglas Moo e Leon Morris), ambos da Editora Vida Nova.